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montesclaros.com - Ano 25 - segunda-feira, 18 de novembro de 2024

Pai dos meninos mortos na praia: "Eu segurava minha mulher com a mão. As mãos dos meus filhos se soltaram das minhas. Tentamos ficar no bote, mas quase não tínhamos ar. Todo mundo gritava na escuridão"

Sexta 04/09/15 - 9h

O sírio Abdullah Kurdi, pai do menino de 3 anos fotografado morto em uma praia da Turquia, contou como o barco lotado em que eles estavam viajando para uma ilha grega virou e disse que logo percebeu que seus dois filhos e sua mulher haviam se afogado. Kurdi disse que o capitão do navio que levava 12 refugiados entrou em pânico, diante de fortes ondas no mar, e abandonou a embarcação, com sua família e outros imigrantes a bordo.
ONDAS
Ele relatou que as ondas eram tão altas que o barco virou. "Eu peguei minha mulher e meus filhos nos braços e percebi que todos estavam mortos", afirmou Kurdi. Hoje, os corpos da mulher e dos dois filhos de Kurdi foram enterrados em Kobane, na Síria. "Como pai que perdeu os filhos, não tenho mais nada o que esperar deste mundo. A única coisa que gostaria é que o drama e os sofrimentos na Síria acabassem, que a paz retornasse", disse Kurdi, que acompanhou o enterro.
NUNCA MAIS
Abdulá relatou a tragédia: “A guarda costeira [turca] nos deteve e depois nos soltou. Nós mesmos conseguimos um bote e começamos a remar em direção a Kos”, explicou. “Depois que nos distanciamos uns 500 metros da costa, começou a entrar água no bote e nossos pés ficaram molhados. O pânico aumentava à medida que a água subia. Alguns ficaram de pé, e o bote virou. Eu segurava minha mulher com a mão. As mãos dos meus filhos se soltaram das minhas. Tentamos ficar no bote, mas quase não tínhamos ar. Todo mundo gritava na escuridão. Eu não conseguia que minha esposa e meus filhos ouvissem minha voz”.
“Quero que o mundo inteiro nos escute da Turquia, aonde chegamos fugindo da guerra da Síria. Estou sofrendo muito. Depois do que ocorreu, não quero ir. Vou levar os corpos primeiro a Suruç [cidade turca na fronteira com a Síria] e depois a Kobani [Síria]. Passarei o resto da minha vida ali”, afirmou.
PAPAI, NÃO MORRA
"Por favor, papai, não morra". Estas foram as últimas palavras do menino Aylan, de 3 anos, e de seu irmão mais velho, Galip, de 5, antes de morrerem afogados na tragédia que comoveu o mundo na semana passada. A revelação foi feita por Tima Kurdi, irmã do pai das crianças, Abdullah, em entrevista ao jornal inglês The Times.

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