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montesclaros.com - Ano 25 - domingo, 29 de dezembro de 2024
 

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Mensagem: LEMBRANÇAS DE UMA GRANDE AMIZADE Ouço os sinos da Matriz chamando, provavelmente, para a Missa das nove e, de repente, já não estou mais aqui. Meu pensamento voa e, de novo, estou saindo da chácara em que morávamos, no atual bairro Santa Rita, para encontrar minha inseparável amiga, Lila Teixeira (hoje Schoffel), na Ovídio de Abreu. De lá nos dirigíamos para a Missa das nove, na Matriz. Andar para nós aquela distância, naquele tempo, não era senão um “pulinho” apenas. Íamos sempre de roupa nova, em cima do salto, com meia fina, duas alegres adolescentes, cheias de graça, encantadas com a festa da Vida. À nossa frente, o futuro era apenas um sonho colorido, um caminho atapetado de flores e esperanças. Assistíamos a Missa com toda piedade, mas nossos corações estavam aos pulos, esperando o momento mais desejado do dia, quando a Missa terminaria e nós iríamos em direção à Praça de Esportes, onde, na “boate”, a hora dançante do domingo nos esperava. Lá, das dez às treze horas, ou, algumas vezes, até às catorze, dançávamos contentes. Jamais levamos “chá de cadeira”. Éramos disputadas e o romantismo predominava: olhos nos olhos, mãos a tremer de emoção, ligeiramente abraçadas aos nossos pares. Podíamos chegar a casa um pouco mais tarde, pois domingo era dia de “ajantarado”, isto é, um almoço farto e variado, em que se comia na parte da tarde. Às dezesseis horas, tínhamos a infalível matinê e, à noite, o “footing” na Praça Coronel. Tempos de inocência e pura alegria!... Poderíamos imaginar que, na descida da ladeira da vida, estaríamos ainda juntas, mas sós?! Não nos casamos muito cedo para aquela época, pois moça, depois dos vinte anos, já estava no “barricão”. Eu ainda me casei na década dos vinte com aquele que, hoje sei, era o verdadeiro amor de minha vida. Isso depois de inumeráveis paixões que ainda me confundiriam mesmo no futuro. Ela, embora muito cortejada, sempre esperando por seu “príncipe alto, louro, de olhos azuis”. Um dia, ele chegou lá das “estranjas” e eu e meu marido fomos padrinhos dessa tão esperada união. Mas, a vida nem sempre piedosa e justa, depois de muita festa, nos bateu na cara com a dura realidade de perdermos, ambas, os nossos companheiros. E, hoje, sem pai e mãe, sem marido, que sempre foram meus refúgios, meus amigos mais queridos, meus portos seguros, onde poderia sempre aportar com tranqüilidade, mesmo depois das loucuras da juventude, vivido o luto, ainda vejo a vida como uma bela aventura e um grande aprendizado. Jamais eu e ela perdemos a paixão pela vida e o encantamento de, pelo caminho, observar as belezas, bênçãos de Deus. Mesmo agora quando a doença terrível toma conta de seu organismo, com a sombra da morte ameaçando-a, ela sorri e ainda brinca. Hoje, quando ao alvorecer, um raio de luz bate em mim, agradeço sempre ao Senhor pelo dom supremo da vida. Dores e alegrias, encontros e desencontros, chegadas e partidas sempre os teremos. Mas, nada disso faz a vida menos bela... Agora que nossos filhos já são adultos, quase na maturidade, temos a alegria dos netos, que nos trazem de volta o encantamento da infância de nossos filhos. Como alguém pode abominar a Vida, quando ela nos presenteia, a cada dia, com tanta beleza e tantas graças?... Tudo passa... Momentos de alegria e aqueles de dor. O tempo vai nos esculpindo de formas diferentes, mesmo guardando traços da juventude, e nos dá, hoje, o maior dos presentes: a Sabedoria. A única tristeza real, na velhice, é não encontrarmos mais pela nossa querida cidade os traços concretos, palpáveis, de nossa juventude, pois o passado vai sendo dilapidado pela ganância impetuosa do homem que fez Montes Claros perder as suas mais belas características. Maria Luiza Silveira Teles

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