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Mensagem: AS IMPLICAÇÕES DO CHARLIE HEBDO Não há como deixar de falar sobre os últimos acontecimentos ocorridos na semana passada em Paris, com ressonâncias em todo o mundo. Foi algo histórico, cujas vertentes políticas e religiosas não me cabe analisar, pois que não sou especialista no assunto. Quero apontar outras vertentes nas quais estão a minha área. A que pudemos assistir? Os sentimentos de revolta, indignação, horror, insegurança, choque, mas, principalmente, aos sentimentos de liberdade e fanatismo. A liberdade é um sentimento inerente ao ser humano. Ninguém suporta ser tolhido em seus movimentos ou em suas idéias. Isso acontece conosco já desde a mais remota infância. Nascemos livres. A liberdade não significa, porém, como tantos pensam, fazer qualquer coisa, como, quando e onde se quiser. Temos limites Os limites criados pela sociedade em que vivemos e aqueles criados por nós mesmos. A liberdade liga-se ao poder de decisão e escolha. Por isso o outro lado da moeda chama-se responsabilidade. Embora, este seja o bem mais precioso que não admitimos nos seja tirado, devemos nos lembrar que não pode haver uma liberdade absoluta. Por quê? Porque o sujeito não é uma subjetividade isolada: o “eu” se põe em relação, existe, é intencional, é situado. Como autoafirmação, o “eu” é a positividade do ser. Ele se relaciona com o mundo e com o “tu”. Como dizia Elizabeth Haich, “Uma pessoa pertence unicamente a si mesma. Ela é um ser livre com o direito inalienável de autodeterminação”. Todos temos um projeto fundamental de vida. E queremos ser livres para realizá-lo. E é na sua execução que exercitamos a liberdade porque o caminho sempre terá percalços, encruzilhadas, nos obrigará a renúncias, enfim, nos dará mil oportunidades de decidir o que fazer para perseguir o ideal. O sentido mais profundo da questão da liberdade é que se ela não existisse o ser humano estaria misturado à Natureza, não se diferenciaria das coisas, estaria inteiramente submisso ao determinismo. Ser sujeito é ser livre: somente com base nessa ideia é que se pode entender a liberdade da ação humana. Sartre, o mestre do Existencialismo, dizia que o homem é o que faz de si mesmo, já que não acredita em forças superiores. Analisando com lógica, veremos que o filósofo não deixa de ter razão, pois o homem não é uma coisa e, portanto, há uma prioridade de sua subjetividade, que implica, logicamente, a liberdade e o livre-arbítrio. Gostaria de finalizar essa parte, embora o assunto tenha ainda muitas implicações, inclusive éticas e políticas, com um “grito” de Tarkovski: “Ai de nós, a tragédia é que não sabemos ser livres - pedimos para nós mesmos, em detrimento dos outros, e não queremos renunciar a nada de nós mesmos em prol do outro: isso significa usurpar nossos direitos e liberdade pessoais. Hoje, todos nós estamos contaminados por um egoísmo extraordinário e isso não é liberdade: liberdade significa exigir apenas de si mesmo, não da vida dos outros, e saber como doar: significa sacrifício em nome do amor”. Com relação ao fanatismo, que é o que leva ao terrorismo, temos sempre repetido que isso é uma doença. Ele nada mais é que um buraco vazio que a pessoa tem dentro de si, repleto apenas de insegurança e medo, e que ele procura preencher de uma maneira desequilibrada. Suas crenças passam a ser tão importantes para a sua sobrevivência, uma vez que são os pilares que a sustentam, que ela teme, com vigor e paixão, qualquer questionamento que as ameace de destruição. A pessoa não quer pensar, nem quer ser induzida a fazê-lo. Ela crê e defende sua crença como uma leoa à sua cria e despreza aqueles que dela não compartilham. Sente-se “dona da verdade”. O fanatismo, além de ser um processo de alienação, jamais traz paz ao coração do homem e é uma ameaça constante à paz do mundo. Isto porque é apenas algo emocional, devastador, fruto da paixão. O fanatismo de massa, então, pode incendiar o mundo. A religião e a fé são algo muito bom quando nos levam ao equilíbrio e ao desenvolvimento do que temos de melhor: a abertura para o outro, a complacência, o amor, o acolhimento, a generosidade, a compaixão e o respeito. Qualquer sentimento que nos leva à separatividade, à irritação e à violência é destrutivo e perigoso. Devemos estar alertas, policiando nossas emoções, para que não nos deixemos envolver por sentimentos de intolerância e não coloquemos as paixões no lugar das realizações. O verdadeiro religioso acolhe sempre com amor ao seu próximo, respeita suas convicções e o aceita como é. Depois de colocados esses dois sentimentos que conduziram aos acontecimentos relacionados ao “Charlie Hebdo”, penso que o leitor pode chegar às suas conclusões. Maria Luiza Silveira Teles
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