Este espaço é para você aprimorar a notícia, completando-a.
Clique aqui para exibir os comentários
Os dados aqui preenchidos serão exibidos. Todos os campos são obrigatórios
Mensagem: O homem da estátua Alberto Sena A alienação em relação aos acontecimentos cotidianos – e principalmente os acontecimentos históricos de passado remoto ou mesmo recente – é tão evidente, salta aos olhos. Isso se dá em toda parte. Montes Claros, cidade que incha em alta velocidade, não fica de fora. Um exemplo? Quem é aquele homem retratado numa estátua de bronze elevada em plena Praça da Estação Ferroviária? Quem souber o nome dele levante a mão. Como ninguém levantou a mão, convém explicar às gerações de hoje e as futuras: aquela estátua soberba é de Francisco Sá, e certamente, ele ali está dizendo na sua mudez a seguinte frase muitas vezes usada em discursos de políticos: “Montes Claros, coração robusto do sertão”. Francisco Sá foi o homem que trouxe a estrada de ferro pra Montes Claros. Pra quem chegou agora, é bom saber e informar depois aos seus: houve um tempo em que a cidade tinha trem de passageiros. O trem vinha de Salvador (BA), entrava por Monte Azul e vinha pra Montes Claros e rumava puxado por máquina Maria Fumaça pra Belo Horizonte. Houve um tempo, conterrâneos, em que o transporte ferroviário privilegiava os passageiros e quem viveu essa época sabe por experiência própria o quanto era gostoso viajar de trem. O “Trem do Sertão”, um dos seus apelidos, seguia de Belo Horizonte ao Rio de Janeiro, transmudado em trem Vera Cruz. Era elétrico, chique pra dedéo. Era no mínimo romântico viajar de trem naquela época, décadas de 50/60. Uma viagem de Montes Claros a capital demandava 24h. O trem saía da estação às 5h e seguia estrada de ferro afora sacolejando e repetindo o ruído das rodas, ferro sobre ferro, a cada mudança da marcha. Mas geralmente, desenvolvia determinada velocidade e a cantilena era a mesma por horas, levando muitos a se espicharem como podiam para tirar uma soneca. Uma soneca após a outra. O trem chegava a Belo Horizonte às 5h do dia seguinte. Para as crianças, uma viagem dessa era pura diversão. O gosto pela contemplação da beleza da Mãe Natureza deve ter surgido pra muitos a partir dessas viagens inesquecíveis, tantas vezes despertadas pelo apito da memória daqueles tempos melhores, sem os perigos atuais. O responsável por proporcionar essas viagens foi aquele homem retratado na estátua erigida na Praça da Estação Ferroviária, oficialmente chamada Praça Francisco Sá. Francisco Sá nasceu no ano de 1862, na fazenda do Brejo, de Santo André, município de Grão Mogol. A fazenda, hoje, é o município de Francisco Sá, nome dado para homenageá-lo. Por aqui, informam os alfarrábios, ele foi mais importante do que o Barão de Grão Mogol, o coronel Gualtér Martins Pereira, que dominou a região no período colonial explorando as lavras diamantíferas. Se se interessam em saber, Francisco Sá era filho do coronel Francisco José de Sá e neto de Francisco José de Sá, conhecido pelo epíteto de Sá Velho. Esse homem que é visto no pedestal, no meio da praça, chamando a atenção dos que vêm pela avenida, a partir do olhar atento, foi deputado provincial (1888 a 1889); deputado geral em 1889, deputado federal de 1897 a 1905. A partir de 1906 a 1930, ele foi senador. Morreu em 1936, no Rio de Janeiro. Francisco Sá foi secretário de Estado da Província do Ceará; secretário de Agricultura de Minas Gerais; diretor do Serviço de Terras e Colonização no governo Afonso Pena; ministro da Viação e Obras Públicas em dois governos, Nilo Peçanha e Artur Bernardes. Em sua gestão se construíram mais de dois mil quilômetros de ferrovias no Brasil, inclusive a ligação ferroviária entre Minas Gerais e a Bahia. Quem viveu os tempos das viagens de trem, como o amigo Flávio Pinto e a prima Geralda Magela Sena, saberão dizer e escrever melhor a respeito de tema tão atraente. O que fizeram com a ferrovia brasileira foi no mínimo uma estupidez e descaso com as verbas públicas, que por serem públicas, são para uso em infraestrutura e para a construção de cidadãos e cidades para o bem-estar e felicidade geral, não de “cada uns”. O mais racional seria investir em ferrovia e rodovia concomitantemente. Juscelino Kubistchek, responsável por trazer para o Brasil a indústria automobilística, não teve a visão demonstrada por Francisco Sá. A ferrovia continua como solução de transporte de massa. Utilizam-se dela os governos que querem e são previdentes. As rodovias e os carros de modo geral cada dia mais se tornam ameaça à vida no planeta.
Trocar letrasDigite as letras que aparecem na imagem acima