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montesclaros.com - Ano 25 - terça-feira, 12 de novembro de 2024
 

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Mensagem: Aluvião de lembranças Alberto Sena Outro dia encontramos a escritora Amelina Chaves indo de Montes Claros a Grão Mogol, a fim de visitar o Presépio Mãos de Deus, e ela punha em dia notícias de amigos com os quais convivemos há mais de meio século. O palco, na época, era a rua São Francisco, em Montes Claros, na mesma casa onde mora até hoje, na qual criou 15 filhos; menos dois que já se foram, todos já resolvidos na vida, o que para ela é motivo de satisfação, aos 82 anos de idade. Amelina nos falou sobre dona Geralda, mulher do senhor Nilo, dono de um açougue na esquina das ruas São Francisco e Corrêa Machado, próximo da nossa casa. Ao cair da tarde dona Elvira pedia pra ir comprar “um quilo de alcatra” no açougue do senhor Nilo, que acabava de receber as partes do boi levadas nas costas por homens altos, fortes e de capa de lona ensanguentada, do Frigorífico Otany, que ficava na avenida Cula Mangabeira, próximo de onde é hoje a prefeitura municipal de Montes Claros. O menino sentado num banquinho via o senhor Nilo preparar os cortes de carne. Ele amolava bem a faca segura numa das mãos e com a outra passava o amolador parecido com um pirulito. Depois, cirurgicamente, desossava uma e depois a outra parte traseira do boi, naquele tempo abatido a golpes de marreta na testa. O Frigorífico Otany era fonte de um mau cheiro terrível quase todo dia ao cair da tarde. Amelina falou-nos de Elias, Muzinho, Luís (?) e Renê, cujo pai tinha uma empresa de ônibus que fazia viagens pelo Norte de Minas. Com Elias e Muzinho convivemos um bom tempo. Elias deixou este plano de vida ainda novo, quando era funcionário do Banco do Brasil. Vieram então as imagens do menino brincando com Muzinho de carrinho de madeira e rodas de carretéis. Ele imitava o ruído do motor de ônibus com perfeição. Dirigir ônibus seria a primeira coisa que ele faria quando crescesse. O menino tinha essa certeza em relação ao amigo. Amelina deu notícia também de Xeba, Niro, Carlinhos, Mozart e também do senhor Mané, um homenzinho tetraplégico que para se locomover contava com um carrinho de madeira, uma miniatura de carro de boi, puxada por dois carneiros. Mané tinha fama de vidente. Essa capacidade dele intrigava o menino. Mané costumava mendigar nas imediações do mercado municipal, o casarão da praça Dr. Carlos, acompanhado de um garoto. Enquanto Amelina dava notícia de tudo, as lembranças da rua São Francisco saltavam vivas, como se estivessem acontecendo agora. A rua era em terra nua e crua. No estio, a camada de poeira ficava alta. Quando acontecia de passar um automóvel, geralmente sedan de cor preta, “carro de praça” chamado, o pó tomava conta de tudo e as portas e janelas das casas tinham de ser fechadas. No período das águas, uns e outros levavam tombos na lama escorregadia. E era então chegado o tempo de jogar finca e bolinha de gude. Tivemos também uma experiência circense. Foi na casa de Amelina, com Roldão e Pretinha, filhos dela. O marido, Almir, era chefe de segurança da Central do Brasil. Pra nós, ele era “detetive” e achávamos curioso o fato de o senhor Almir andar sempre com um revólver na cintura. A chegada dele inibia um pouco talvez devido ao fato de ser “um detetive”. Mas ainda assim fazíamos estripulias, voávamos em trapézio imaginário e o senhor Almir fazia de conta que nada via. Disse-nos Amelina, a casa onde morávamos ainda existe. Nunca mais pusemos os pés nela. Tudo agora lembrado se deu entre os anos 1957 e 59. Em 1960, a família foi morar na rua Corrêa Machado, entre as ruas Dr. Veloso e João Pinheiro. Havia lá o campo do União Esporte Clube. Foi naquela casa que, em 1961, o nosso pai faleceu, José Batista da Conceição chamado, apelidado de Zé Bitaca, porque teve uma loja na rua Coronel Joaquim Costa. A casa da rua Corrêa Machado foi outra época importante. Vieram novos amigos, entre outros, Chico Ornelas e Quizim; Paulo e Luís, filhos do ferreiro Simeão; Nêgo Ró, Osmar, Zezinho, Jésus, os irmãos Felipe, João Carlos e Ricardo Gabrich; Rubim, Sílvio, Dedinho, Mário Bode e Eustáquio, neto de dona Tina. Foi época bem vivida. Éramos felizes e sabíamos. O vivido vivo ainda está na mochila. Mas o importante é a intensidade de viver o agora, quando construímos o futuro. Sabendo disto vamos juntos plantar o bem sem olhar a quem. Para amanhã não chorarmos a vida desperdiçada.

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