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montesclaros.com - Ano 25 - sábado, 16 de novembro de 2024
 

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Mensagem: Brasilinha, a viagem de volta Ana Maria Antunes Machado Todos os natais de minha vida, até os 28 anos, foram em Montes Claros. A viagem que sempre partiu de Belo Horizonte na correria típica de dezembro, para encontrar aquele sentimento de acolhedor e ocioso da semana entre natal e reveillon na casa de meus queridos avós, Oswaldo e Inilta Antunes. Montes Claros nessa época sempre teve um cheiro que para mim é pura memória, nostalgia de infância... sempre penso no cheiro acolhedor da época: manga, chuva e pequi, cheiros e sabores quase acolhedores que, quando sinto, me levam a casa de meus avós - Oswaldo e Inilta Antunes - e se misturam com amor condicional típico dos avós. A casa grande, cheia de gente, a doce lembrança das mesas de lanche sempre postas, comilança garantida, a casa no natal enfeitada por bolas vermelhas, presépio e velas, o carinho e a preguiça do dezembro, que sempre encontrei ali. casa que para mim é memória, infância, casulo pra descansar do resto do mundo. Deitar no sofá e ouvir histórias,bons casos e boas comidas, além da inestimável biblioteca do meu avô... canto riquíssimo de ideias. Pois bem, foi logo após o natal de 2011 que fiz uma das viagens das mais inesquecíveis que já fiz... mesmo já tendo dado a volta ao mundo. Sempre me interessei muito por história e literatura, pelos casos de meus avós. Foi então que propus à meu avô passarmos o dia em sua cidade natal, Brasília de Minas, ou como chamam de maneira mais simpática, ´Brasilinha´. Fomos então para a viagem de volta, o retorno de meu avô à sua casa. Saimos cedo de Montes Claros, sob a preocupação de minha avó com a estrada, o que iriamos comer e etc... - coisas de avó - o caminho já se enchia de memórias e histórias... as viagens à cavalo até Montes Claros, o saudoso tio Francisquinho. Fomos chegando em Brasilinha e aos poucos os personagens e lugares da memória de meu avô ganhavam contornos reais para mim, mesmo que afastados em tantos anos de histórias, ali estava: o primo Antônio com quem meu avô dividiu os anos de estudo em Belo Horizonte e que nos ofereceu um delicioso almoço e boas horas de conversa, a igreja das missas dominicais, o açougue, o mercado, o rio Jacarezinho onde nadava e mesmo o lugar um pouco mórbido que é o cemitério, foi uma bela visita onde meu avô me levou para, com os olhos contemplativos, buscar os nomes dos parentes nas jazidas e deixar para mim algumas peças do mosaico de sua vida. Tudo isso era pedaço de Grande Sertão Veredas no ato, e ainda histórias de família, disputas, vendetas e até o Hermógenes - caricatural personagem de Guimarães Rosa - tinha ali um nome em um grande mausoléu. Para terminar a viagem pela memória, fomos até o local mais acolhedor que uma pessoa pode visitar em sua velhice: a casa onde meu avô nasceu, casa do Oswaldo menino, onde subia no pé de goiaba, escondia moedinhas nas frestas do assoalho - e que ainda devem estar lá - o fogão a lenha onde sua mãe, dona Zulmira, cozinhava. Lá na rua, do lado de fora tinha também o parlatório - que antes parecia imenso - agora era pequeno pelos olhos de quem viveu 87 anos de uma vida tão intensa.Visitamos ali sobrinhos que ele não via há tempos e o primo Antônio, que tanta satisfação para meu avô foi reencontrar e lembrar velhos casos. Em tantos cantos vivos da momória, meu avô - pessoa calada, mas que sempre gostou de se expressar pela escrita - se abria para contar detalhes de uma infância em Brasilinha. Parte dessa infância já havia encontrado em seu livro ´A Tempo´, foi então ´a tempo´ que pude dividir este dia maravilhoso com meu avô, me despedir dele, pois foi a ultima vez que nos vemos. Hoje ele é pura lembrança doce que guardo... já faz um ano que se foi. Com ele aprendi a ser ética, peguei o gosto pela leitura, pela escrita e pela fotografia. Jornalista primoroso e carinhoso em sua personalidade inteligente e contemplativa. Ecoa sempre em meu ouvido a forma como carinhosamente me chamava: ´Ô Maria!´ e agora é pura lembrança de vida, lembrança que deixei guardada em Montes Claros. Talvez um dia, quando chegar então minha velhice, retorne eu também a Montes Claros em dezembro (quem sabe a pedido de uma neta?) e então sentirei de novo o cheiro da manga, do pequi, da chuva, caminharei pelas ruas do centro lembrando do cantos e das histórias, e então vou ouvir na memória alguém que me chama ´Ô Maria!´. Lá está meu avô e minha avó, pois em nossa memória as pessoas queridas nunca deixam de exisitir.

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