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Mensagem: A seca que não terminou Waldyr Senna Batista Choveu. Mas choveu tão pouco que, na prática, a seca não terminou. A do ano passado estendeu-se ao ano em curso, redundando até em certa confusão na cabeça de quem trabalha ligado ao instável regime chuvoso. Desta vez houve inversão: em dezembro praticamente não choveu e, também, não aconteceu o tradicional “veranico de janeiro”, porque no período choveu como nunca, inclusive com pancadas de derrubar barracões e destruir avenidas mal construídas. Em compensação, fevereiro tem sido marcado pela escassez, com chuvas esporádicas, delineando-se panorama preocupante, ao final do período, porque haverá pastagem de menos e gado de mais. Prevendo catástrofe a partir de agosto/setembro, os proprietários rurais estão adotando medida de cautela, pondo à venda seus rebanhos, a fim de evitar que as reses venham a morrer por inanição. E porque todos pensaram igual e procederam da mesma forma, está se dando o chamado “efeito manada”, com o mercado tornando-se vendedor, derrubando os preços, sem que haja compradores. Se ocorrer chuva em março ou abril, será insuficiente para a recuperação dos danos, e pode ser até prejudicial, porque fará brotar capim, que será consumido pelo gado, deixando tudo em estado de terra-arrasada . A seca do ano passado, que era classificada como a mais rigorosa dos últimos tempos, será superada pela deste ano, que na verdade é mero prolongamento da seca anterior. Dito assim, sem meias palavras, parece excesso de pessimismo. E é. Mas pessimismo fácil de ser avaliado diante do que se viu até agora. Os pecuaristas estão apavorados, muitos falando até que deveria ser cancelada a próxima exposição agropecuária, cujos preparativos já foram iniciados. Para esses fazendeiros, a mostra, sempre alardeada como “a grande festa da agropecuária regional”, tende desta vez a ser contaminada pelo desânimo. Eles temem que, diante da seca que não terminou, poderá não haver o que comemorar. As notícias que vêm do extremo Norte de Minas não são animadoras. Por incrível que pareça, já está faltando água em vários municípios. Caso de Espinosa, Mamonas e adjacências, a mesma região em que, no ano passado, faltou água até para o consumo humano. O abastecimento, naquelas cidades, foi garantido por carros-pipa que, no auge da crise, chegaram a quinze por dia. Eles estão em vias de ser novamente acionados, mal iniciado o ano. A barragem de Estreito, no rio Verde Pequeno, divisa com a Bahia, que secou no ano passado, não se recuperou e vai secar de novo, bem mais cedo. O Gorutuba, em Janaúba, “cortou”, provocando redução jamais vista no nível da barragem de Bico da Pedra. E as notícias alarmantes estão apenas começando. Na primeira metade do século passado, em que a economia norte-mineira se resumia à agropecuária, seca na proporção da atual condenava a região ao caos. Os prejuízos eram principalmente de ordem social, devido à fome que lançava nas estradas poeirantas os retirantes em direção às cidades de maior porte, como Montes Claros, que tinha como resposta apenas os trilhos que levavam a São Paulo. Hoje, a agropecuária é a quarta componente do novo perfil econômico da região, superada pela indústria, pelo comércio e pelos serviços. Essa diversificação faz com que a região possa melhor absorver os danos provocados pelas sucessivas estiagens, como certamente irá acontecer mais uma vez, apesar do rigor desta seca que não terminou. (Waldyr Senna é o decano da imprensa de Montes Claros. É também o mais antigo e categorizado analista de política. Durante décadas, assinou a ´Coluna do Secretário´, n ´O Jornal de M. Claros´, publicação antológica que editava na companhia de Oswaldo Antunes. É mestre reverenciado de uma geração de jornalistas mineiros, com vasto conhecimento de política e da história política contemporânea do Brasil)
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