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montesclaros.com - Ano 25 - domingo, 17 de novembro de 2024
 

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Mensagem: A saga de Dona Tiburtina Ruth Tupinambá Graça Hoje, 6 de Fevereiro de 2013, está completando justamente 83 anos que a nossa querida Montes Claros foi palco do mais absurdo e lamentável acontecimento: o tiroteio Fevereiro de 1930, no atentado contra o Vice-Presidente da Republica Dr. Fernando de Melo Viana. Montes Claros a pacata e hospitaleira cidade já teve seus ´Montes Escuros´... Escuros sim, quando o coronelismo (política suja e indecente) dominava nossa cidade nos idos de trinta. Montes Claros era dividida em duas facções políticas: de um lado o Partido de Cima apoiado pela Aliança Liberal que, por sua vez, apoiava a candidatura de Getulio Vargas á Presidenta da Republica. O chefe do partido era o Dr. Honorato José Alves e, do outro lado o partido de Baixo, amparado pela Concentração Conservadora, que apoiava a candidatura de Julio Prestes à Presidente da Republica, liderado pelo deputado Camilo Felinto Prates. A cidade ficou assim durante muito tempo, dividida e dominada pelas oligarquias, sob o comando dos coronéis. Dr. João Alves era aqui o chefe do Partido Aliança Liberal. Nascido em Diamantina, filho do Cel. Marciano Alves e casado com Dona Tiburtina, nascida em Itamarandiba, filha do Capitão Manoel Florentino de Andrade Câmara. Dr. João Alves, médico excelente, muito conceituado em nossa cidade, tranqüilo e pacato ,voltado exclusivamente à medicina,portanto quem dirigia e mandava no Partido era Dona Tiburtina, mulher de fibra, valente, audaciosa e sobretudo dominadora, fazendo forte oposição aos coronéis conservadores da região Nesta ocasião, um fato lamentável se deu em nossa cidade colocando-a no palco do´banditismo´. Foi o celebre tiroteio de seis de Fevereiro de 1930. Segundo o escritor Nelson Viana chegaram em Montes Claros, à noite, em composição especial da E.F.Central do Brasil, o Dr. Fernando de Melo Viana, vice-presidente da Republica, Dr. Manoel Thomaz de Carvalho de Brito, presidente da Concentração Conservadora no Estado de Minas e a comitiva composta de deputados e altos funcionários do Congresso do Algodão a realizar-se em nossa cidade. Entretanto o fim principal não era este e sim a política para propaganda da Concentração Conservadora. Dr. Melo Viana participando do movimento contrário a Aliança Liberal provocou a resistência da família Alves e Dona Tiburtina convocou seus jagunços que se colocaram de prontidão, armados em frente à sua casa. Caso houvesse provocação por parte da Comitiva , a ordem era atirar. Dr. Melo Viana desembarcou na Estação da Central do Brasil onde correligionários políticos, visitantes de outras cidades vizinhas o esperavam, ao som dos dobrados da Euterpe Montesclarense , foguetes e grande euforia do povão, Dr. Melo Viana foi carregado nos braços do povo até as escadas da Estação e, já na descida da Praça, foi saudado pelo saudoso Dr. José Corrêa Machado, expressando alegria pela sua chegada e gratidão pela sua visita a este sertão abandonado pelos chefes do governo. Toda Comitiva descia ao som da música, reboar dos foguetes e alegria dos acompanhantes, em direção ao centro da cidade onde seria hospedada no sobrado dos Oliveira, na Praça Dr. Chaves. Ao penetrar na Praça Dr. João Alves, o chefe da Aliança Liberal (Dr. João Alves) achava-se á frente da sua residência dando vivas à Aliança Liberal. Neste momento, uma bomba atirada pelos manifestantes atingiu o menino Fifi, filho adotivo do alfaiate, Sr. Lindolfo, amigo da família Alves. Isto foi o bastante para esquentar os jagunços. Naquele momento partiu da casa do referido chefe político a primeira descarga de armas de fogo e o Dr. João Alves gritava: “Não atirem, há crianças e mulheres´... Neste momento estabeleceu-se o pânico nos presentes e o tiroteio continuou forte sobre a multidão desesperada, atingindo em cheio a Comitiva que passava, no momento em baixo das arvores frondosas, em frente a casa onde se alojavam os jagunços armados. Foi um instante terrível e de muita aflição. O povo amedrontado procurando alcançar outras ruas para se livrar das balas mortíferas que cruzavam. Os componentes da Comitiva do Dr. Melo Viana desceram a Rua Dom João Pimenta até a esquina com Dr. Santos, entrando em casa da Mestra Fininha (mãe do Dr. Mario Ribeiro) que os socorreu e onde descansaram um pouco, retornando a Belo Horizonte naquele mesmo trem especial que os trouxera. Cessado o tiroteio, verificou-se que havia um menino morto na porta do Dr. João Alves e ainda dois corpos sem vida: do Dr.Rafael Fleury , secretário do Dr. Melo Viana e de um jornalista montesclarense João Soares da Silva. No meio da Praça, atingidos por balas na coluna vertebral, estavam Moacyr Dolabela e Dona Iraci Oliveira Novaes, esposa do Sr. Eulipdson Novaes e irmã do Sr. Jair de Oliveira. Transportados para Belo Horizonte morreram logo, em conseqüência dos ferimentos. Nunca se soube, ao certo, o numero de mortos naquela fatídica noite: havia muita gente de fora. Entretanto, há um boato que, anos mais tarde,quando construíram o prédio do Automóvel Clube de Montes Claros (no mesmo local onde fora a residência de Dona Tiburtina) nas escavações encontraram uma cisterna cheia de esqueletos... Eu como espectadora não acompanhei a descida da Comitiva, fui somente à chegada na Estação. Fui avisada pelo Sr. Arthur Amorim ,comerciante no Mercado Municipal e vizinho do jagunço Manoel Baiano que se houvesse provocação por parte da Comitiva haveria tiroteio. Os jagunços já estavam preparados e alojados nas arvores em frente a casa da Dona Tiburtina. Ainda me lembro dos nomes de alguns deles: Manoel Baiano, Velho de Lilia, Ezuperio Ferrador, José de Sá Flora, Joaquim Mulato, Pedro Caxumba, Antônio Valente. Estes eram os principais e obedeciam cegamente as ordens. Na ocasião, não sofreram nada por esta cruel desumanidade. O governo estava do lado de Dona Tiburtina. Mais tarde, anos depois, houve uma simbólica prisão sendo logo libertados por um “júri muito especial´. Veio depois a revolução de 30 e o partido Aliança Liberal ganhou e Getulio Vargas foi eleito Presidente da Republica, melhorando muito a situação de Dona Tiburtina . Os adversários, coitados!... Sofreram muitas torturas, injustamente, enquanto durou o reinado de Dona Tiburtina. Em outra oportunidade, falarei sobre o ´Pelotão de Bate Paus´, grupo formado por estes mesmos jagunços, disfarçados em soldados (com uniforme, boné, polainas, armas na cintura e tudo mais) apoiados por um Coronel da policia local, criado com a finalidade de guardar a cidade, ajudando policiais a manter a ordem. Mas, na verdade, estes grotescos soldados nada tinham que se assemelhasse ao sentimento de patriotismo. O objetivo era mesmo vingança e até tortura aos adversários políticos. E como estes sofreram !... Pegavam o adversário à noite: sem nenhum motivo era levado para trás do cemitério velho (onde hoje é a Catedral) e malhavam a vitima com uma surra de pau. Ao amanhecer, os parentes iam buscá-lo. Foram muitos cidadãos honestos e respeitados que sofreram na pele a injustiça (muitos até faleceram em conseqüência dos ferimentos), a fúria e a maldade dos ´bate Paus´ sob o comando da Dona Tiburtina. (N. da Redação: Ruth Tupinambá Graça, de 96 anos, é atualmente a mais importante memorialista de M. Claros. Nasceu aqui, viveu aqui, e conta as histórias da cidade com uma leveza que a distingue de todos, ao mesmo tempo em que é reconhecida pelo rigor e pela qualidade da sua memória. Mantém-se extraordinariamente ativa, viajando por toda parte, cuidando de filhos, netos e bisnetos, sem descuidar dos escritos que invariavelmente contemplam a sua cidade de criança, um burgo de não mais que 3 mil habitantes, no início do século passado. É merecidamente reverenciada por muitos como a Cora Coralina de Montes Claros, pelo alto, limpo e espontâneo lirismo de suas narrativas).

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