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montesclaros.com - Ano 25 - domingo, 17 de novembro de 2024
 

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Mensagem: Famílias sofrem em dobro com a chuva em Montes Claros - Moradores desalojados pelas chuvas não conseguem se recuperar da longa estiagem e enfrentam novo transtorno com as inundações, que levam suas casas e plantações - Luiz Ribeiro - Como a maioria das cidades, Montes Claros, no Norte de Minas, sofre com a falta de escoamento das águas pluviais e está em situação de emergência por causa dos temporais do fim de semana, que deixaram 276 famílias desalojadas, num total de 1.088 pessoas. A cidade vive uma situação curiosa: sofre com as consequências da seca e das chuvas ao mesmo tempo, ficando evidenciada a falta de preparo para conviver com as adversidades climáticas. Antes das tempestades, Montes Claros, como todo o Norte de Minas, teve muitos prejuízos com a estiagem. Em 2012, a região experimentou uma das piores secas da história. Choveu em novembro, mas de dezembro até a semana passada a cidade e outros municípios foram castigados pelo sol forte, que destruiu as lavouras. A decretação da situação de emergência em função das enchentes numa cidade acostumada com os efeitos da estiagem surpreendeu quem trabalha no socorro a vítimas de tragédias. “Mantemos em Montes Claros donativos para os flagelados da seca, mas agora os materiais estão sendo fornecidos para as vítimas das chuvas”, afirmou o coordenador estadual de Defesa Civil, coronel Luís Carlos Martins, que na segunda-feira conferiu de perto as consequências das enchentes e definiu estratégias para a ajuda às famílias desalojadas. Os prejuízos das famílias atingidas são estimados em R$ 3 milhões pela prefeitura, que calcula em R$ 100 milhões o montante de recursos necessários para reconstrução de ruas, avenidas e de pontes. Em apenas duas horas na manhã de domingo, choveu 82 milímetros. “Caiu uma tromba d ‘água na cidade”, afirma o prefeito Ruy Muniz (PRB). Sem escoamento O fato de Montes Claros ser situada numa região com predominância do tempo seco na maior parte do ano acabou contribuindo para que a população não tivesse preocupação com redes de drenagem pluvial, o que foi um erro coletivo. A observação é feita pelo professor Guilherme Guimarães, coordenador do curso de engenharia civil da Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes). “A cidade foi construída sem levar em conta a possibilidade de ocorrência de chuvas intensas. Chove durante poucos meses do ano. Mas, de forma concentrada, com grandes precipitações em curto espaço de tempo, o que faz aumentar os riscos de inundações”, afirma Guimarães. Segundo o secretário municipal de Infraestrutura e Serviços Urbanos, Jason Teixeira Neto, nos últimos anos o volume chuvoso da região foi reduzido. Entretanto, as chuvas têm caído de forma mais concentrada. O professor Guilherme Guimarães ressalta que, como os gestores levaram em consideração somente o fato de o município estar numa região de clima seco. “A cidade foi implantada sem sistema de drenagem subterrânea. Todo escoamento é superficial. Com isso, as ruas viram rios a qualquer chuva, provocando inundações. Ocorreu uma ocupação urbana acelerada, com loteamentos sem drenagem, sem respeitar sistemas naturais como grotas, várzeas e encostas, locais que não podem receber construções”, explica. Águas invadem lavouras O desempregado Paulo Henrique Silva construiu uma moradia no fundo da casa dos pais, a apenas dois metros do Melancias. “Fiz meu barraco aqui porque não havia outro local para a gente ir”, justifica Paulo Henrique, que ontem, como os vizinhos, lamentava os prejuízos da inundação. O barraco da costureira Wendy Rodrigues fica a cinco metros do leito do Melancias, mas foi invadido pelas águas, que, como ela conta, destruíram tudo. “A água chegou de uma vez. Eu e meu marido saímos correndo. Continuamos aqui, mas é só ver o sinal de chuva que a gente fica com medo de nova enchente”, disse Wendy. Algumas famílias de Montes Claros, em função da sequência estiagem prolongada e dos temporais, acabou tendo prejuízos provocados pelos dois fatores climáticos. Por causa do sol forte de dezembro e início de janeiro, o zelador Manoel Messias Ribeiro perdeu cerca de 70% das lavouras de milho (dois hectares) e feijão (meio hectare) que plantou na chácara onde mora, perto do Distrito Industrial da cidade. Na manhã de domingo, Manoel Messias, com o filho, Carlito Ribeiro, teve de ser resgatado de barco pelo Corpo de Bombeiros, porque a chácara foi tomada pela águas do Rio Vieiras. Ele também teve prejuízos com os temporais. Manoel Messias conta que a enchente levou 50 galinhas e quatro porcos, além de provocar danos no que restou da plantação de milho. No Bairro Cidade Industrial, o pedreiro Antônio Edmundo Ferreira plantou uma roça de milho em uma área de meio hectare, perto do Rio Vieiras. Na parte alta do terreno, a plantação não vingou por causa da seca. Na parte baixa, junto ao leito do rio, a lavoura estava indo bem, mas com a força das águas o milho foi derrubado. “Deus quis assim e a gente tem que aceitar”, diz o resignado Antônio Edmundo. Prefeito quer R$ 100 milhões A Prefeitura de Montes Claros informou que serão necessários R$ 100 milhões para a recuperação dos estragos e tenta recursos com o estado e a União. O secretário municipal de Infraestrutura e Serviços Urbanos, Jason Teixeira Neto, explica que o montante não é só para recuperar os danos das chuvas, mas também para para corrigir problemas em obras, devido a falhas de escoamento. Segundo ele, serão necessárias obras de drenagem, reforma de canais e canalização de rios, além da reconstrução de pontes e do asfalto de ruas e avenidas. “São intervenções emergenciais caras. Não podemos construir obras de maneira irresponsável, sem solucionar o problema das enchentes”, afirmou.

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