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Mensagem: Saudades de uma cidade que era... Montes Claros era uma cidade pacata que desenvolveu a partir dos anos 70; a televisão... mal podíamos assistir à novela “Irmãos Coragem” – um verdadeiro chuvisco e perda de sinal, – muitos Eder Barbosa [técnico responsável] da torre. A TV era um “case” de novela! Assim que acabou a Copa de 70, as transmissões pioraram, e, às vezes, ficava até dez dias sem sinal – tudo era “culpa” do Sr. Edes Barbosa ou das torres da Serra do Pentáurea e da Cordilheira do Espinhaço (Pau d’óleo em Juramento-MG). Um dia ficamos sabendo, que, já no mandato do Pedro Santos (1972) ele e o seu filho Tone Santos iriam melhorar o sinal sob a supervisão do Sr. Edes Barbosa. – E melhorou! Já no segundo mandato do Sr. Toninho Rebello, um retransmissor foi instalado dentro da Igreja dos Morrinhos. - Aí sim! O Senhor do Bonfim abençoou, e o sinal voltou! No início de 1980 com o esforço de Elias Siuff e um grupo de maçons a transmissão tomou um rumo certo e definitivo. Esse breve preâmbulo foi captado da minha reminiscência, veio para externar a tristeza que a TV nos proporcionou; pois, as novelas: O bem Amado – Gabriela e a Selva de Pedra, TIRARAM as “adolescentes moças” e adultos dos nossos “footings” [Praça Coronel – Esquina Lanches e da nossa esquina da Dr. Veloso c/ General Carneiro]. Sinto muitas saudades dos anos 70. Até das ruas pavimentadas com bloquetes sextavados – paralelepípedos “seculares” (hoje cobertos de asfalto) - das ruas calçadas com pedras sem nenhuma lapidação (pé de moleque) e das ruas em terra pura. - Era um “deus nos acuda”, mas deixou saudades! Lembro-me muito bem das moças com saltos altos que desiquilibravam entre as pedras e bloquetes das ruas centrais de Montes Claros – andavam em duplas ou triplas - subiam e desciam; sempre nos cochichos e olhares de desejo em plena mudança cognitiva e emocional. Nas esquinas do Asilo São Vicente ou da Esquina Lanches (frente Casa Alves) e até mesmo no barzinho “Vichi” (com ch) que se situava à Rua Presidente Vargas 128. Nós [turma] em pé nos passeios observando que nem um “gavião penacho” - às vezes - por infantilidade - vilipendiando as moças menos belas. Os rapazes de família mais “abastadas” ($) (uns nem tanto) - eram quase invencíveis nas disputas pelas conquistas, só pelo fato de desfilarem de “motinhas Yamaha 50cc” ou jipes sujos de poeira expressando serem fazendeiros. Só o barulho emitido pelas descargas das “motinhas” atrapalhava a conversa dos casais de namorados sentados num banco da praça. Eu ali com minha “monareta 69” [da Monark) todo cheio de felicidade! De vez enquanto, um milkshake na frutaria Skmel ao lado (colado) no Cine Cel. Ribeiro. Na Praça do Automóvel Clube – a noite com as luzes fracas – era charmoso ficar ali no avançar da lua - sentar nos bancos da praça com a nossa suposta pretendente – éramos um bando de jovens aprendizes e felizes - era como voar pra lua – as emoções, à flor da pele – testosterona em alta, e nada acontecia – o respeito e o medo cancelavam os avanços. Nas ruas, era comum ver os vizinhos conversando sentados em frente às casas. Mas, o jeito típico de cidade pequena foi se perdendo e deixando saudades – a Rua Dr. Veloso perdeu seus queridos moradores, virando uma rua de lojas de calçados; roupas prontas; restaurantes e etcéteras. Éramos uma turma que além do “footing” noturno; tínhamos momentos de passeio, especialmente na Serra do Melo (Sapucaia) – Fazenda Vieira (rio carrapato) e principalmente na Fazenda Quebradas de Dª Arinha e Sr. Pedro Veloso – seu casarão sempre estava nos aguardando para degustar o café da manhã – era o dia todo comendo rapadura com requeijão – chupando manga e mexerica – a tarde, o retorno era pela estrada do Alfeirão, momento em que, depois de muitos flertes sutis - moças e rapazes se paqueravam. Tudo com muito respeito (...). Voltando às ruas de Montes Claros, a Rua Dr. Santos praticamente era o “point” da moda – tudo que surgia de moda nas novelas e no Rio de Janeiro, nesta rua tinha. Para os jovens e seus moradores era o “shopping”. Na esquina das ruas Simeão Ribeiro e Presidente Vargas (hoje uma lanchonete), comprávamos as eternas calças de “ponta”: Lee e Lévi Strauss – além dos macacões Lee, que era o “chama” para a conquista. Era uma época em que “moça direita” só saía de casa acompanhada, e não ficava na rua depois das 10h da noite. Os namoros aclimatavam progredir lentamente. De início, era só conversa e mãos dadas. - Abraços e beijos surgiam quando o casal estava junto havia algum tempo, primeiro dentro das salas de cinema. E os pais, quando aprovavam o relacionamento, vigiavam para que as etapas se sucedessem sem atropelos. Uma época em que, para namorar era difícil, porque, todas as ruas eram cheias de casas de famílias, e cada uma delas tinha um olheiro e uma olheira. O bom era que os olhos das bisbilhoteiras(os) não evitavam sentir o cheiro dos shampoos: “Palmolive Limão” - Colorama – Seda – Morange e um que não esqueço, o L’oréal. - Sem elencar quem usava qual. Era na Praça Coronel Ribeiro o ponto onde as “amigas” deixavam a jovem sozinha, para encorajar o pretendente a se aproximar. Era bom demais! Nem os olhos dos hóspedes do Hotel São José e nem daqueles que rodopiavam na praça evitavam os primeiros abraços e beijos. Passou... vieram as mudanças; as praças hoje só mendicância – os índices de violência noturna aumentaram muito – os usuários de drogas, principalmente de cocaína e crack, acresceram substancialmente; o glamour das ruas e praças de Montes Claros acabou – os processos de seduzir alguém se perdeu neste mundo resiliente. Ficou mais fácil “conquistar”, sem dúvida! Porém, conquistar sem o glamour de outrora só traz ansiedade e depressão. Ninguém fica seguro. Tudo é passageiro! IV – XII - MMXXIV (*) José Ponciano Neto é Escritor, Historiador, cronista, Membro da Academia Maçônica de Letras do Norte de Minas (AMALEN) e do Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros (IHGMC) – colunista literário (colaborador) do site montesclaros.com e colaborador do Novo Jornal de Notícias.
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