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montesclaros.com - Ano 25 - quarta-feira, 30 de outubro de 2024
 

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Mensagem: PASSEIO FANTÁSTICO Era madrugada. Como que envolta por uma capa, que me fazia invisível, passei a caminhar pelas ruas vazias da cidade, a tudo contemplando e recordando de como as coisas eram no passado. Passei pelo Mangueira, pela Montanhesa, Mangueirinha, Clube Montes Claros, Intermezzo e todos aqueles lugares que marcaram minha juventude. Não pude conter as lágrimas. Ao me aproximar da Cristal, entretanto, comecei a ouvir um vozerio estranho. Continuei descendo e, quando cheguei à Praça da Matriz, fiquei estarrecida diante do que se descortinava à minha frente: um aglomerado de pessoas que já haviam transposto o além-túmulo. Todas estavam bastante alegres como se ali acontecesse uma festa. Aliás, pude perceber Ducho tocando o seu bandolim e Nivaldo Maciel cantando com sua belíssima voz. Junto deles estavam João Chaves, Raimundo Chaves, João Leopoldo, Adélia Miranda, Josefina de Paula, Dilma Silveira e tantos outros, que acompanhavam, em coro, o canto de saudade. Parecia que se agrupavam por afinidades, pois percebia diversos grupinhos, numa conversa descontraída e animada a lembrar suas vidas, os fatos ocorridos e marcantes, assim como a discutir os fatos presentes. Passei pelo grupo de Pedro Santos, Mário Ribeiro, Dr. Mauricim, Simeão Ribeiro, Dr. Plínio Ribeiro, Dr. Jardim, Dr.Alpheu de Quadros, Dr. João Alves, Hermes de Paula, Deputado Esteves Rodrigues discutindo a política atual. Parei para ouvir e percebi que eles não estavam nada satisfeitos. Comentavam que, hoje em ida, os políticos não pensam no bem-comum e que o único objetivo é auferir vantagens pessoais. Dr. Plínio, chamando o Cel. Antônio dos Anjos e Filomeno Ribeiro, pontuou: “Vocês não pensam, amigos, desta forma?”. Cel. Antônio dos Anjos, com a feição tristonha e sisuda, ponderou: “Bem, nós amávamos a nossa terra e trabalhávamos por ela. Hoje, no entanto, este tipo de mentalidade egoística e mercenária parece ter se tornado o tônus da política brasileira. Ninguém faz nada por amor. Todos são movidos por interesses. Assim, nossa terra vai crescendo, ou melhor dizendo, vai inchando aleatória e desproporcionalmente e se descaracterizando. As pessoas não mais se relacionam por afinidades, não se visitam, não conversam sobre os interesses da cidade como nós costumávamos fazer. O único lugar em que percebo amigos se ajuntarem para conversar sobre política, mulheres e futebol é no chamado Café Galo. Passo, às vezes, por lá, e ouço até ponderações de pessoas muito inteligentes que poderiam ser melhor aproveitadas para o bem da cidade. Aliás, vejam ali o recém-chegado Haroldo Lívio, grande intelectual no grupinho de Geraldo Brejeiro, que era conhecido por Cel.Tito, Olyntho Silveira, Cândido Canela, Reivaldo Canela, Corby, Zé Capeta ou José Macedo, Pe. Aderbal Murta, Ãngelo Soares Neto, Ruth Tupinambá, Joaquim Cesário Macedo, Raimundo Neto, Major Oscar Vale Moreira, Luiz Carlos Novais, o Peré, Amélia Prates Souto, Nelson Viana, Yvonne de Oliveira Silveira, Newton Prates, Niquinho Rapadura e outros. Com certeza, devem estar falando sobre literatura e lamentando tanta bobagem que tem sido publicada, nos dias de hoje, em nossa terra. Já perceberam como todos, agora, se consideram escritores? E a qualidade? É melhor esquecermos isto. Vamos deixar pra lá!”. No grupo dos intelectuais, achegou-se Niquinho de Açúcar, mostrando um novo soneto que acabara de fazer. Ouvi Ruth, minha grande amiga, perguntando: “Niquinho, como você vai fazer para publicar este soneto se estamos num mundo não-material?”. Niquinho respondeu: “Ora, Ruth, eu vou a um Centro Espírita e dito para qualquer médium, que também seja poeta”. Ruth ponderou: “E isto é possível?”. Niquinho disse: “Ora, experimenta! Você ainda pode ajudar bastante na História de Montes Claros!”. “Como assim?”. Niquinho falou: “Procure Wanderlino Arruda e lhe dite o que quiser.”. Ruth alegou: “Interessante, lá no meu prédio, vivia Laury Rego Cunha, uma mulher extraordinária, educada, elegante, que, algumas vezes, me falava sobre isto, mas eu, embora a respeitando muito, nunca acreditei.” Niquinho acrescentou: “Pois não é que a propalada “morte” nos ensina muito?! Veja bem: quem de nós está morto? Todos estamos aqui bem vivos”. Ruth ficou a pensar. E eu continuei meu passeio, encantada de poder auferir do privilégio de ver aquela gente e poder ouvi-la. Percebi noutro canto o bispo Dom José, Dom João Pimenta, Dom Aristides, Dom Geraldo Magela de Castro. Todos muito bem e alegres, mas fazendo críticas à Igreja. Bem, isto não era do meu interesse e deixei-os ali. Percebi que vinham chegando Pe. Tadeu, Pe. Janjão, Paulo Emílio Pimenta, Pe. Agostinho, Pe. Dudu, Pe. Marcus e outros. Tive grande satisfação de poder revê-los e abracei a cada um. Todos sentiram uma onda de amor, que não sabiam explicar... Bem, eu fui me afastando e me aproximando de outros grupos. Vi, já na Rua Cel. Celestino, hoje chamada de Corredor Cultural, Raimundo Colares, Konstantin, Godofredo Guedes e me aproximei. Claro, eles só poderiam estar conversando sobre Artes. Quanto a isto pareciam satisfeitos com o que vinha sendo feito na terrinha. Ah, bem perto, os três irmãos portugueses, tão importantes para Montes Claros e que deixaram aqui uma bela descendência: Arthur, Antônio e José Ramos. Com eles o impoluto e empreendedor Nathércio França e o velho Zacalex. Provavelmente, conversavam sobre o Comércio e a Economia. Não quis nem ouvir, pois sei que a situação anda preta... Ora, lá estavam, num outro grupo, Dr. Geraldo Machado, Dr. José Souto, Aderbal Andrade, Dílson Godinho, Crisantino Borém, Doutor Santos, Nelson Villas-Boas, todos fazendo críticas duras aos médicos de hoje, com algumas ressalvas. Ainda vi um grupo de educadores como Dr. João Luiz de Almeida, Heloisa Sarmento, Dalva Dias, Antônio Jorge, Dulce Sarmento, Bernadete Costa, Dona Taúde, Sônia Quadros e outros tantos. Também faziam duras críticas à Educação. Não é que os casarões estavam cheios de espíritos? Aquilo era uma verdadeira festa, embora não visse comida e nem bebida. Mas, a conversa ia animada pela madrugada afora. Encontrei, também, um grupo de feministas como minha própria mãe, Zezé Silveira, a fazer demonstração de yoga para Dona Fernanda Ramos, Suzana Quadros, Dona Tiburtina, dona Josefina Mendonça e mais algumas. Com a chegada do lusco-fusco da alvorada, tudo aquilo parecia ir se desvanecendo... Ia voltando para casa feliz e em paz, subindo a Dr. Veloso. Encontrei, então, o que penso ser um anjo, pois tinha uma luz que iluminava toda a rua. Perguntei-lhe: “Quem é você?”. Respondeu-me: “Sou o Anjo da Morte.”. Fiquei espantadíssima, pois o imaginava feio e com uma foice. Apenas pensei e ele, parecendo captar meu pensamento sorriu e disse: ”Isto é o imaginário popular”. “Mas, você não mata as pessoas?”, perguntei. Ele disse: “Meu trabalho é ajudá-las na passagem, apenas ajuda-las. Preciso ir, pois tenho muito trabalho por aqui. Vá em paz com Jesus!”. Bem, eu já sabia que a morte não é senão uma passagem para outra vida. Provavelmente, aqueles espíritos tiveram permissão para voltar à velha e querida cidade e se encontrarem para aquelas confabulações e, quem sabe, corrilhos e planos para Montes Claros... Pela manhãzinha, acordei sem saber se aquilo fora apenas um belo sonho... Mas, que fora um passeio fantástico não tenho dúvida alguma! Maria Luiza Silveira Teles (membro da Academia Montes-clarense de Letras) (membro do Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros)

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