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montesclaros.com - Ano 25 - quinta-feira, 31 de outubro de 2024
 

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Mensagem: À PROCURA DO TEMPO PERDIDO E DA PAZ II À tarde fomos ao ponto crucial: Praça da Saudade, onde viveram os antepassados, há muito mais de cem anos. Ali foi o início do povoado, a mata cortada pelo Córrego de Vintém, uma fonte onde as pessoas lavavam as roupas. Muitos anos depois, passou a chamar-se Fonte da Saudade, lembrando o grande amor de Maria Tiana por João Luiz, forasteiro, à procura de lavras de ouro. Ela lhe deu esperanças, pois já tinha recolhido cascalhos, com pepitas de ouro. Junto ao poço foram ajuntando cascalho recolhido. Desesperado, João Luiz partiu, sem levar Maria Tiana, e esta, desesperada, ficou até a morte, depois do nascimento da filha, a qual pediu que batizassem com o nome de Maria Saudade. Recolhida por uma Família, Maria abandonou-a aos oito anos, vivendo a perambular sem destino, pelas ruas, e a cantar. E os conceicionenses passaram a chamá-la por Maria Doida, e com este nome ficou até morrer. Construída a praça, deram-lhe o nome de Praça da Saudade, na qual um dos irmãos do meu avô comprou o terreno onde existiram a fonte e o casebre de Maria Tiana. Construiu uma casa e o sítio. A fonte desapareceu, mas de uma bica corre água sem cessar. Deve ser a Fonte da Saudade, imaginei, quando lá estive pela primeira vez. O nome mudara para a ´Chacrinha do Vovô´, apelido do tio avô, que ali viveu com a família, até a morte. Os filhos casaram-se, mas três meninas ficaram solteiras, morando no sítio, que passou a ter o nome de ´Chacrinha das Meninas´, até mesmo terem oitenta e noventa anos. Emília, não conheci, Leta já estava em declínio, mas Nininha continuava forte e lépida, apesar de mais de oitenta, levando-me pelas ruas de altos e baixos, calçamento antigo, de pedras. Conheci igrejas, praças, mercado, lugares pitorescos, a casa do parente ilustre, José Aparecido de Oliveira, infelizmente, fechada. Encontramo-nos, depois, em uma reunião. E a casa dos avós, onde cresceram nossos pais? Na primeira visita, lá estava na Praça, do outro lado da ´Chacrinha do Vovô´, agora, o progresso levou-a, como todos, bem como as casas dos Costa Sena e do poeta Alphonsus de Guimarães, casado com a prima Zilah. As ´meninas´, também, partiram, e lá encontramos apenas Conceição, viúva de Deusdito, filho adotivo de Nininha, e em duas casas, mais modernas, as filhas casadas. No fundo da casa, os mesmos canteiros floridos, lindas rosas e cravos, e a fonte correndo a bica. Perdidos tios e primas. Deixamos a Chacrinha e a Praça da Saudade com a certeza de que é inútil à la recherche du temps perdu, como Proust verificou. Na manhã do dia seguinte, passeio pelo campo, mais rochas do que vegetação, visitas às igrejas barrocas, e à noite, ao paraíso de Said, filho de Tonica e Santiago, que lá já estavam com duas filhas e netos. Instalado em um sobrado antigo, Said, o primo artista de grande valor, com arte decorou o sobrado; antiguidades, nos móveis, mesas e paredes até no atelier, em que recupera imagens santas, envelhecidas, com pintura marchetada de partículas brilhantes, tornadas obras artísticas de beleza, muitas são adquiridas em várias cidades e capitais. Conversas, livros, jornais. E ei-nos a ver a passagem da última procissão do Jubileu,centenas, milhares de romeiros, velas acesas, estrelas na Terra, orando e cantando, contritos. Chegaram ao alto do Matozinho para as bênçãos e as despedidas. E, também eu, Frederico, motorista de Nilza, conduzindo o carro. Recebi a bênção e, em lágrimas, agradeci ao Bom Jesus a graça da paz. Na manhã seguinte, eis-nos de volta, descendo pelas curvas da rodovia da Serra do Cipó, extasiados com a bela paisagem das ´Montanhas de Minas´, cantadas pelo poeta Alphonsus de Guimarães. Ao longe, o veludo de tapete azul claro-escuro, conforme a incidência do Sol nos recôncavos pela vegetação, e rochosas, diante do esplendor da natureza, o medo desaparecia. Sãos e salvos - assim se diz - graças a Deus, chegamos ao sopé florido, água concorrendo, balneários, pousadas, restaurantes. Em Sete Lagoas, despedimo-nos. Nilza e Wilson, conduzidos por Frederico, seguiram para Belo Horizonte, Zaia e eu, no carro de Wallestein, prosseguimos por mais cinco horas, até chegarmos em casa. Com lágrimas, mas sem desespero, pela ausência querida, descansei. O tempo perdido, perdido está, mas a paz doada pelo Bom Jesus, durante o Jubileu, permanecerá.

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