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montesclaros.com - Ano 25 - quinta-feira, 31 de outubro de 2024
 

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Mensagem: Amor a Montes Claros Meu prezado leitor, Toninho nos deixou, mas o que guardo eternamente dele é aquela cena no calçadão da Minascaixa, no meio da galera, com velhos amigos, velhos eleitores e admiradores, como, por exemplo, Nivaldo Maciel e Márcio Cardoso. Com toda sua fama de grande prefeito, rico e de nossa alta sociedade, misturava-se aos demais. Ângelo Soares Neto. Um dos maiores enganos acerca de Toninho Rebello é a tentativa de vinculá-lo aos grupos políticos com os quais se uniu. Ele lidou com igual sobriedade com diferentes correntes políticas e partidárias; se fosse para o bem de Montes Claros, não importava o partido a que alguém se ligasse. Ele sempre privilegiou as pessoas, não a ideologia partidária. Sei que hoje é muito difícil entender essa forma de pensar. Mas era exatamente como foi. Exemplifico: Toninho Rebello teve como porta-voz, na época de seu segundo mandato como prefeito, Augusto Vieira, o ´Bala Doce´, que confessadamente partilhava de ideologias diferentes daquelas defendidas pelo partido ao qual Toninho era filiado. Não encontrei melhor forma de descrever tal relação, a não ser por meio das palavras do próprio Augustão: Há pessoas com as quais tive o prazer de conviver com mais intensidade e que marcaram profundamente minha vida. Uma delas foi Antônio Lafetá Rebello (Toninho). [...]. No final de 1969, retornei a Montes Claros. Era o último ano de seu primeiro mandato como nosso prefeito. A ditadura se tornara mais cruel ainda depois do AI-5, de 10 de dezembro de 1968. O ditador de plantão era o General Médici, o do ´milagre brasileiro´, o do ´ninguém segura este país´, o do ´Brasil, ame-o ou deixe-o.´ Toninho encerrava seu primeiro mandato e, de cara, abracei a campanha de João Carlos Sobreira para sucedê-lo, principalmente porque a turma do então MDB defendia o Plano Diretor elaborado em seu primeiro governo. Parecia que nossa campanha era do próprio Toninho, face às ideias que defendíamos nos palanques. Se esse plano, de cuja elaboração - parte institucional - participara, assessorando meu ex-professor de Direito Administrativo, Paulo Neves de Carvalho, tivesse sido executado, com a construção dos eixos Norte-Sul e Leste-Oeste, minha terra não padeceria hoje de seus praticamente insolúveis problemas urbanísticos. [...]. O clamor popular pela volta de Toninho à Prefeitura era imenso. Eu o percebia pelo contato direto que mantinha com o povo no exercício da advocacia, na universidade e na militância do esporte. Toninho resolveu candidatar-se. A pequena turma da esquerda de Montes Claros aliou-se a ele. Afinal era ele o candidato mais bem dotado de ideias e práticas democráticas, que tinha profundas raízes libertárias e, portanto, nosso aliado natural. Os partidos eram apenas dois, impostos pelo arbítrio: ARENA, situação, e MDB, oposição. Mas a lei eleitoral permitia sublegendas. Resolveram então criar mais uma, na ARENA, para abrigar a nova candidatura de Toninho a prefeito. A política municipal tem razões que a própria razão desconhece e muitas vezes nada tem a ver com a nacional. [...]. Toninho fazia ponto na alfaiataria de Elzino, na rua Simião Ribeiro, onde sempre nos encontrávamos. Batíamos longos papos sobre o país, a cidade e futebol. Numa tarde do verão de 1976 ofereci-lhe meu apoio. Ao agradecer disse: - Você será um dos meus vereadores. Perplexo, respondi que não dava para entrar para a ARENA e ele argumentou que esta minha posição era radical, pois dentro de uma sublegenda do próprio partido da ditadura eu poderia continuar lutando pela redemocratização do país. [...] Pois bem, Toninho era de certa forma um guerreiro helênico. Exercitava como ninguém a arte de julgar, a arte do bom e do justo. Nada decidia sob pressão e quando o fazia era dentro de implacáveis critérios, o principal deles o interesse coletivo. Não era maniqueísta ou falso moralista. Entendia o ser humano concretamente, com suas virtudes, defeitos e limitações, sem jamais distinguir uma pessoa de outra ou humilhar alguém. Tratava todo mundo sob o crivo da igualdade da fraternidade. Era extremamente leal e franco. Dizia que a vida era uma conta corrente em que se contabilizavam nossos erros e acertos. Esperava que no final da sua a lista dos acertos superasse a dos erros. Esse kriterion o levava a antever, com maestria ímpar, quando era procurado para vantagens pessoais ou não. Com a mais fina educação e mais absoluta serenidade dizia à pessoa o porquê da decisão contrária a de seus interesses, fosse ela quem fosse. Às vezes, é preciso recorrer às palavras alheias, pois delas vem uma verdade que pareceria suspeita a um narrador que tem, como eu efetivamente tenho, laços de sangue e de afeto com o narrado. Li muito e ouvi muito; quase sempre as palavras sobre Antônio Lafetá Rebello foram de admiração e respeito. Ele partilhava da amizade pessoal de Mário Ribeiro, de quem era compadre, mesmo que não concordassem nos assuntos ideológicos. Dois homens de bem sabem distinguir as coisas. Uma minoria do povo de Montes Claros nunca entendeu seu jeito de governar: confundiram retidão e seriedade com prepotência, mas felizmente, o tempo e a memória dos bons montes-clarenses têm-se encarregado de desmenti-los. Ele também não acobertou aqueles que se aproximam do poder, qualquer poder, em nome da vantagem pessoal e de benefícios particulares. Ele soube, como poucos, distinguir o bem público do privado. Já ouvi muita conversa fiada e mentira. Disseram que ele asfaltou a cidade porque foi dono da Pavisan, empresa que se encarregou das primeiras e grandes transformações urbanísticas de Montes Claros, governada por ele, em rumo ao progresso sonhado. Mentira. Disseram que ele fez a ´Avenida Deputado Esteves Rodrigues´ em proveito próprio: mentira. Pobre Montes Claros! Hoje a cidade se ressente desse pensar miúdo e rasteiro! Já ouvi muita gente discutindo o ´mito´ Toninho Rebello. Ele deve estar, em algum lugar, com aqueles olhos enormes e tristes, olhando divertido para essa gente. Toninho Rebello foi o homem mais simples, bom e humilde que conheci! Tentaram denegrir sua imagem. Seu sucessor imediato fez publicar em um jornal que, após a posse de seu secretariado, faria publicar um ´relatório bomba´, em que tiraria a máscara de Toninho Rebello. Estamos até hoje à espera de tal relatório. As bombas vieram, de fato, mas sob a forma de escândalos administrativos, políticas de favor, negociatas escusas, péssimas gestões que nada têm a ver com Toninho Rebello. Montes Claros, nossa cidade querida, envelheceu, triste e machucada, ferida por administrações populistas. E, como era de se esperar, as bombas estouraram do lado de quem lhes acenderam os estopins. Eles que se esfalfem em apagá-las. É melhor que a Montes Claros que eu sonho para meus filhos se veja por meio de outra imagem. José Geraldo Gomes, filho de um amigo de infância de Toninho Rebello, José Gomes, e genro, porque foi casado com Vera Lúcia, a filha mais velha de Toninho, relatou-me uma cena, testemunhada por Virgínia de Paula, filha do médico e escritor Hermes de Paula. Certo dia, andando pelas proximidades da Praça da Matriz, deu com dois senhores muito graves, sentados num banco, chupando pirulito e fazendo planos para Montes Claros. Seus nomes: Dr. Hermes de Paula e Antônio Lafetá Rebello. Espero que Montes Claros não se esqueça de quem verdadeiramente a amou. (Extraído do livro ´Toninho Rebello, o Homem e o Político´, de Ivana Rebello e Jorge Silveira, lançado em Montes Claros na noite de 25 de fevereiro)

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