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montesclaros.com - Ano 25 - sexta-feira, 1 de novembro de 2024
 

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Mensagem: O DESRESPEITO AO SER HUMANO Todos sabemos do caos que é a Saúde no Brasil. O quadro se escancara para nós, quase que diariamente, em programas e noticiários da televisão. Entretanto, a coisa toma outra dimensão quando se particulariza, isto é, quando sentimos na carne o descaso e o desrespeito ao ser humano. Sabemos que, muitas vezes, o médico não tem culpa e nem tampouco a direção do hospital, pois falta material de todo tipo e pessoal devidamente preparado. Entretanto, nada pode desculpar a falta de higiene e a brutalidade de certos médicos e técnicos de enfermagem. Eles não estão tratando de coisas, mas de seres humanos, que merecem todo respeito e, inclusive, carinho e conforto, pois quem está doente se encontra fragilizado física e psicologicamente. Ontem, fui visitar uma amiga mui querida, uma verdadeira irmã, companheira de toda uma vida, com câncer generalizado. Ela sente dores horríveis, insuportáveis. Qualquer pessoa que já sentiu algum tipo de dor é bem capaz de conseguir imaginar a intensidade da dor de um câncer com metástase. Ou será que não?! Pois bem, essa minha amiga esteve internada, sentindo muita falta de ar (o câncer tomou o pulmão) e dores que não lhe permitiam se mexer. Antes, porém, de ser internada, ali mesmo, no pronto-socorro, o médico pediu-lhe para tirar a blusa e o sutiã a fim de fazer punção de ambos os pulmões. Ela bastante envergonhada, pois estava diante de uma multidão, reparou, com horror, a falta de higiene do lugar e de todo o procedimento. Eu fiquei chocada, pois já passei também por esse procedimento em Belo Horizonte e em Salvador, mas, jamais, nas condições relatadas por ela. Além disso, ela se mexeu um pouco e derramou o frasco que o médico tinha colocado sobre a maca. Ele simplesmente gritou com ela, ofendendo-a. Depois, já na enfermaria, ao reclamar porque o enfermeiro picou-a várias vezes para encontrar uma veia e colocava no soro (claro que por ordem médica...) apenas “lisador”, o dito cujo lhe deu um tapa no rosto. Essa é uma conduta inadmissível! Se hoje pela lei um pai não pode fazer isso com um filho, como é possível que um técnico ou auxiliar de enfermagem bata em uma paciente?! E, por acaso, lisador, remédio comum que as pessoas costumam tomar para uma simples dor-de-cabeça, pode melhorar a dor de um câncer? Os médicos resistem em dar morfina ou codeína porque dizem que a pessoa pode viciar. Entretanto, eu pergunto: isso importa quando se sabe que a pessoa está para morrer? Acho que essa é uma conduta médica que precisa ser revista, pois acredito que todos devem ser tratados com dignidade e respeito; mais ainda aqueles que estão sofrendo e sabem que estão prestes a morrer. Ou não?! O que fazemos com um bichinho nosso de estimação quando ele sente muitas dores, diante de uma doença incurável? Não o levamos para o veterinário a fim de que lhe dê uma morte decente, sem sofrimento? Não estou aqui pregando a eutanásia. Sou cristã e acredito que a pessoa só deve ir quando é chamada de volta ao Verdadeiro Lar. Entretanto, acho que é desumano deixar o doente sentindo dores horríveis até que a morte chegue. Se a medicina tem recursos para isso por que negar ao ser humano o conforto? Nunca poderei entender!... Quando voltava para casa, ainda triste e chocada com tudo, lembrei-me de uma crônica escrita no “Estado de Minas”, há anos atrás, por um médico que tinha lá uma coluna semanal (fugiu-me da cabeça o seu nome...). Ele contava que havia passado por uma cirurgia de hemorróidas e, ao terminar o efeito da anestesia, começou a sentir dores horríveis. Chamou a enfermeira e pediu uma injeção para dor. Ela voltou com uma injeção de novalgina. Ele ficou nervoso e gritou: “A senhora pode imaginar o tamanho da dor que estou sentindo? Não me venha com essa de novalgina. Eu quero uma dolantina”. A enfermeira respondeu-lhe que não era possível, pois não coadunava com a receita que o cirurgião havia deixado. Ele, imediatamente, pediu o telefone e gritou para seu colega: “Seu “fedaputa”- com perdão da má palavra – você já operou de hemorróidas”? O colega respondeu “não” e ele argumentou que ele, pois, não podia calcular a dor que estava sentindo. E ameaçou: “Se você não mandar a enfermeira me dar uma dolantina, agora, vou aprontar um escândalo nesse hospital e acabar com você”. Aí, ele passou o telefone para a enfermeira, que esperava pacientemente. Ela, então, recebeu ordem para fazer o que ele queria. Ele terminou a crônica dizendo que todo médico deveria passar por uma cirurgia de hemorróidas para mudar a sua atitude diante de um paciente que está sofrendo. E prometeu a si mesmo jamais dar uma simples novalgina quando um paciente seu reclamasse de uma grande dor. E eu termino a minha fazendo essa pergunta que não quer calar em minha mente e em meu coração: “É humano deixar um paciente sofrer tanto quando existem recursos para lhe dar conforto?” Maria Luiza Silveira Teles

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