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montesclaros.com - Ano 25 - terça-feira, 24 de dezembro de 2024
 

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Mensagem: A VIAGEM DE RUTH Para Montes Claros, morreu a intelectual, a escritora, a historiadora, Ruth Tupinambá Graça. Para mim, foi-se uma grande amiga. A dor é grande, a saudade eterna. Antes de ser a minha amiga, ela já era amiga, desde a adolescência, de meu pai. Foram, na alvorada de suas vidas, namoradinhos. E a amizade deles durou toda a vida. Meu pai sempre repetia: “Ruth era a moça mais linda de Montes Claros”. Ela, com certeza, tinha consciência de sua beleza. Contava-me sempre a história dos dois. Já conhecia meu pai daqui, onde ele estudava no Colégio Diocesano e jogava futebol. Soube, então, que haveria um baile em Brejo das Almas e que papai tinha ido para lá. Conseguiu dos pais permissão para ir, também. Comentou com uma amiga: “Vou dançar o tempo todo com Geraldo Brejeiro” (como meu pai era conhecido, na época...). A amiga advertiu: “Mas, ele tem namorada lá”. Ela respondeu, sem pestanejar: “Não tem importância, eu vou tomá-lo dela”. E foi o que aconteceu. Dançaram todo o baile e começaram a namorar naquela noite. Só que o namoro daqueles tempos era muito diferente dos de hoje. Consistia apenas em dançar nos saraus, passear trocando olhares, mandar bilhetinhos, etc. Foi coisa passageira que eu não poderia contar com minha mãe viva, pois, apesar de gostar muito de Ruth, ela não deixava de ter ciúmes. Alguns anos depois, fui professora de duas de suas filhas, no Colégio Imaculada, quando eu tinha dezessete anos. Depois, de seu filho, Armênio, no Colégio Tiradentes, sem saber, então, de quem eles eram filhos. Sabia apenas que eram de uma família tradicional daqui e amiga de meu pai. Mais tarde, comecei a encontrar-me sempre com Ruth em eventos intelectuais e sociais, em companhia de sua irmã, Felicidade Tupinambá. Acompanhada de meus pais, eles sempre se aproximavam delas e, um dia, a elas fui apresentada. Gostava muito de Feli e trabalhei com ela no antigo Conservatório de Música, na sua primeira velha casa e, depois, na Rua Dr. Veloso, no antigo Clube Montes Claros. Não imaginava, porém, a grande amiga, que, um dia, eu seria de Ruth. Quando já madura, depois de criados os filhos, ela entrou para a Faculdade de Filosofia, onde foi cursar Pedagogia. Foi quando nos aproximamos mais, pois eu era sua professora de Psicologia e Sociologia. Logo, ela me chamou a atenção por seu enorme interesse, por sua brilhante inteligência e aplicação nos estudos. Qual o professor que não gosta de um aluno assim? Bem, fomos nos tornando amigas cada vez mais próximas. A faculdade terminou e, logo, comecei a ler seus artigos nos jornais e a apreciá-los muito. E, nossa amizade foi se estreitando. Tornou-se minha colega na Academia Montesclarense de Letras e no Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros. Cada vez nos encontrávamos com mais frequência para meu deleite. Deixa uma obra importante, deliciosa de se ler, e sem pretensões históricas. Mas, mesmo sem querer, ao contar as histórias de casos antigos da terra querida, ela achou uma maneira não-acadêmica, mas agradabilíssima, de contar a História de Montes Claros. Mas, o mais extraordinário nela era o seu grande coração! Era uma pessoa humana maravilhosa, de imensas qualidades. Generosa, autêntica, sincera, simples, sem jamais criticar alguém. Caráter raro nos dias em que vivemos! Mãe e esposa amorosa, amiga verdadeira de suas amigas, pessoa grata, que jamais se esquecia de quem tinha lhe feito algum favor ou, de alguma forma, contribuído para seu crescimento como ser humano. Ah, Ruth, você bem sabia que quanto mais a gente vive maiores são as perdas. Mas, quero me lembrar de você sempre com sua enorme alegria, entusiasmo, força, independência! Enterrei meus pais, um filho, amigos,maridos, primos, tios, uma legião de entes queridos: esse é o preço de não se morrer jovem. Mas, mesmo com o coração em frangalhos, a gente consegue, espelhada no exemplo da força de vocês, ajuntar os cacos e olhar pra frente com esperança, fé e alegria. Sossegue meu coração, pois, bem sei que uma criatura extraordinária como você só pode, agora, estar nos braços de Deus-Pai. A saudade, minha amiga querida, será sempre muito grande! A falta que sentirei de nossos papos nada poderá substituir! As pessoas costumam dizer que “o cemitério está cheio de insubstituíveis”. Essas pessoas, decerto, não conhecem a essência do verdadeiro amor, aquele amor que transcende tudo. Digo, usando suas palavras: “Ante olhares indiferentes, a beleza fria das grandes cidades, sentindo o coração despedaçado, eu chorei, chorei muito, com saudades de tudo!”(trecho do livro “Montes Claros – Eterna Lembrança”). Hoje sou eu quem chora... Ah, Ruth, queria visitá-la na fase mais dura de sua caminhada final. Fiquei sabendo que estava fora daqui. Quando, porém, marquei a visita, você resolveu ir embora, antes que eu chegasse... E, agora, pelas ruas indiferentes de nossa terra, meu choro será engolido, pois devo continuar a viver! Com a mesma dignidade sua. Até um dia, minha amiga! Estou certa que essa sua viagem será cheia de Graça! Maria Luiza Silveira Teles

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