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Mensagem: ADEUS, QUERIDA ´TIA´ RUTH TUPINAMBÁ! Aqui, aos prantos, depois de saber por intermédio de Rogério Borges, quero abraçar Norma, Márcia, Nara, Teca, Alberto, Armeninho e demais familiares. O Conde Armênio Graça estava reclamando muito, dizendo que o céu estava ficando sem graça sem ela. Vai uma crônica a ela dedicada em meu livro Bala 60 e que está aqui no site do Facebook também. Mudei para minha aldeia e meus amigos começaram a viajar. Primeiro Cláudio Athayde, depois Haroldinho Veloso e, agora, minha querida ´tia´ Ruth. Recebemos, juntos, a medalha do Movimento Catrumano. Não tenho a capacidade de retribuir à altura a crônica que Armeninho dedicou à memória de meu pai, mas vai a que pude fazer: Minha querida tia, pelo coração. Primeiro, devo dizer-lhe que recentemente tive o prazer de falar, por telefone, com seus filhos Alberto e Armênio, meus fraternos amigos. Segundo, que li, em nosso Mural, sua crônica “Cibernética, assim caminha a humanidade” e a notícia da conclusão da pesquisa da UNICAMP, no sentido de que o uso do computador pode piorar o desempenho dos estudantes. Louvando suas teses, seu romantismo, seu otimismo, sua eterna juventude e esposando a tese da universidade paulista, envio-lhe esta singela mensagem. Certa feita, tia Ruth, recebi um hóspede indesejável: um vírus no disco rígido {(HD = hard (quente) disk)} de meu PC (Personal Computer = computador pessoal). Então fui obrigado a aprender a dar o famoso boot (pé na bunda, pontapé) em todos os softwares (programas) instalados. Resolvi fazê-lo sozinho, para aprender. Fui ao BIOS (vida), que é uma espécie de retrato da placa-mãe (útero do computador), onde você lê todas as características básicas da máquina e pode configurá-la. É como entrar na alma do bicho. Sabia que o macete era colocar o CD de instalação no driver (condutor) e dar uns toques repetidos na tecla delete (apagar). Hoje nem isso é mais necessário. É tudo automático. Basta a pressão de duas teclas. Teclado chama-se Keyboard = chave de bordo. A bordo de quê? Seria o timão de um navio singrando mares? Teria surgido daí a expressão navegar na Internet? Minha sorte é que havia feito backup (cópias de meus arquivos) em CD. Reinstalei todos os softwares (programas) e, como não tinha problemas de hardware (equipamentos), copiei-os e tudo funcionou às mil maravilhas. E foi assim, minha jovem e amada escritora, que me rendi aos novos tempos, perplexo por já estar falando a linguagem da informática com a maior naturalidade. Logo eu que, só depois dos cinquenta anos, influenciado por meu filho, o Combat, passei a usar essa milagrosa maquininha. Acostumado a ler romances de ficção, livros de filosofia, direito, política e história, li e gostei do livro do Bill Gates, “A estrada do futuro”. Mal fechei sua última página assaltou-me o seguinte pensamento: já pensaram se o canadense Marshall Mcluhan quando, no início dos anos 60, do século próximo passado, lançou a expressão “aldeia global”, tivesse imaginado a revolução da informática, ou seja, que quase tudo poderia lhe vir às mãos, instantaneamente, de qualquer canto deste nosso vasto mundo? Pouco tempo depois passei a defender a democratização dos PCs. Toda morada do Brasil deveria ter, pelo menos, um. Tal qual luz elétrica, geladeira e telefone. O PC, principalmente depois da navegação em banda larga – e hoje já navegam até sem fio –, simplificou nossas vidas porque não mais enfrentamos aquelas filas quilométricas dos bancos; escrevemos, produzimos, alteramos e corrigimos textos, salvando tudo em arquivos; fazemos pesquisas sobre todos os temas que quisermos; mandamos documentos e mensagens instantaneamente; passamos e recebemos “faxies” (permitam-me esse plural); imprimimos o que nos interessa; ouvimos músicas; vemos filmes e televisão; escaneamos (permitam-me esse verbo), editamos e arquivamos fotos; produzimos filmes caseiros e mil coisas mais. Logo, logo, livros e jornais impressos serão coisas do passado, principalmente depois que minha geração passar e amadurecer a moçada que conviveu com a informática desde a infância. Meus netos usam um computador com a mesma naturalidade com que eu uso um garfo e uma faca para comer um arroz com pequi e carne de sol. No entanto, grande Ruth Tupinambá, e a bem da verdade, há momentos que, como toda máquina, computador enche o saco, satura, cansa. Todos eles deveriam ter uma teclazinha chamada “foda-se”, para acionarmos nessas ocasiões. A gente não pode nem deve se viciar nessa cativante maquininha, porque isso poderia levar-nos a deixar de lado os prazeres maiores da vida, tais como beber uma cervejinha batendo papos com amigos em volta das mesas dos bares; fazer amor gostosamente; ler um bom livro ou uma crônica de Ruth Tupinambá; tocar um instrumento musical; andar pelas ruas, sem rumo e sem nada para fazer, só admirando a obra-prima da criação: gente. E o que seria pior: o vício cibernético pode também mandar para o espaço toda nossa criatividade, a ponto de nos transformar em meros manipuladores de informações, o que nada tem a ver com o processo conhecimento. Computador é que nem bebida: gostosa, mas deve ser usada mo-de-ra-da-men-te. É valioso instrumento, preciosa ferramenta para facilitar nossa existência, cujos valores maiores, encabeçados pelo amor, foram tão bem ressaltados em sua artística crônica, eivada da mais profunda filosofia. Já imaginou, minha querida e cibernética Ruth Tupinambá, se Machado de Assis tivesse um PC? Você, minha querida amiga, é, no altar de seus mais de 90 anos, a grande escritora de minha aldeia. Um símbolo de inteligência e honradez para as novas gerações. Obrigado por seus livros, artigos e crônicas. Obrigado pela homenagem que você prestou à memória de meu pai, numa de suas crônicas, relatando a amizade entre ele e seu marido, nosso saudoso “Conde” Armênio Graça. Querida ´tia´, sua bondade te fez Santa. Descanse em paz, sua vida valeu a penha.
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