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montesclaros.com - Ano 25 - sexta-feira, 1 de novembro de 2024
 

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Mensagem: Engenheiros políticos e a falta deles Isaias Caldeira Neste momento político , com o Brasil dividido não só eleitoralmente, mas passionalmente, com um ódio entre classes sociais que beira àquelas situações extremas, onde a chama do dissenso apresenta-se como o estopim ao enfrentamento fratricida entre os nacionais, é preciso buscar os exemplos de homens que, a despeito dos métodos e das diferenças ideológicas, buscaram o caminho do consenso, num diálogo político que preservasse os interesses do País. Sei que minha abordagem pode ser polêmica, mas nunca me ative ao aplauso fácil ou tergiversei em minhas convicções, hauridas estas na permanente observação dos acontecimentos e no sentimento de justiça para com os homens em geral e dos que foram personagens da nossa história política, com destacada atuação no nosso destino. O General Golbery do Couto Silva, apodado de “ O Bruxo” por seus desafetos e “ O Mago” por seus admiradores, ideólogo da doutrina de segurança nacional, teve relevante papel no regime militar instalado no País a partir de 1964 e foi fundamental para a restauração da democracia do Brasil, com a abertura política iniciada por Ernesto Geisel e consolidada no governo do Gel. Figueiredo. Coube a Golbery o afastamento do centro de poder e isolamento dos radicais de direita, refratários às medidas liberalizantes no campo político, inclusive da anistia, construindo pontes com a oposição, num diálogo que na maioria das vezes dava-se em movimentos sibilinos, incompreendidos por muitos, longe dos holofotes e da mídia, para não despertar reações dos adversários das negociações, no caso os radicais de ambos os campos políticos, da situação e oposição. Homem de destacada cultura e imenso patriotismo, além de sua exemplar atuação política, que o fez merecer de um dos ícones da esquerda beletrista, o cineasta Glauber Rocha, o epíteto de gênio da raça, deixou-nos uma monumental obra geopolítica , onde traçava os caminhos a serem percorridos pelo País em suas relações com o mundo, especialmente a America Latina. Parcela da oposição radical tudo fez para desmerecê-lo , face ao ódio cego ao homem que era o estrategista do regime militar, não reconhecendo sua atuação serena e equilibrada, na permanente restauração dos postulados democráticos, mas de forma lenta e gradual, para não melindrar companheiros de farda “ equivocados mas patrióticos”, no dizer do então Presidente Geisel. Aos poucos, já no governo Figueiredo, implementou a anistia política e a volta de lideranças expatriadas pelo regime, possibilitando com sua atuação que a sucessão presidencial se desse dentro de um clima político tranqüilo, com a ascensão de Tancredo Neves ao cargo de Presidente da República,escolhido pelo Congresso Nacional. Nunca lhe prestaram os tributos devidos. Naquele tempo, por conta da antipatia devotada pela oposição, que via nele o maior obstáculo à conquista do poder, como ideólogo do regime, e hoje em face da prevalência do ideário esquerdista, com um nítido viés revanchista, reescrevendo a história ao seu modo, na visão dos derrotados de então e que estão ao leme da política nacional , guindados ao poder por força do voto, coroando aquelas iniciativas do velho General. Assim como Golbery, que nunca foi devidamente reconhecido por sua a atuação no campo político, guardadas as diferenças ideológicas e de estilo, também o petista José Dirceu sempre teve a repulsa de setores da oposição , por ter sido, no mandato do Presidente Lula, o mais influente político em atuação, quem de fato traçava as linhas mestras do governo, com viés de esquerda, mas sem radicalismos, bem próximo da social democracia. Ignoram que foi ele , antes mesmo de Lula ganhar as eleições em 2002, o mentor de canais de diálogos com o mercado e sistema financeiro, chegando a ir até os Estados Unidos para conversas com o governo do Presidente Bush, no que foi bem sucedido, de modo que, eleito, pode Lula encontrar-se com o americano, numa aproximação que gerou até mesmo afinidades pessoais entre ambos os presidentes. Naquela eleição, coube a José Dirceu também buscar aproximação com setores moderados do país, dentre eles Itamar Franco, ainda governador de Minas Gerais, com parcela do PMDB e outros partidos de centro-direita, através de suas principais lideranças. Instalado o governo Lula, isolou setores mais à esquerda do PT, resultando no afastamento de parlamentares e ideólogos ditos históricos, mas de viés socialista, aos moldes Cubanos. Em 2004 parte desses políticos formaram o PSTU. Em 2005, formou-se o PSOL , ambas as agremiações descontentes com o que chamavam de “ viés conservador” do governo Lula. Enquanto isso, consolidava-se uma política financeira com forte influência do presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, oriundo do mercado financeiro. Com o advento do mensalão encurralando o Presidente Lula politicamente, sua atuação foi fundamental para o afastamento do seu “ impeachment”, sendo bom lembrar que Aécio Neves era citado como um dos seus interlocutores junto aos partidos de oposição, visando impedir a medida drástica, que colocaria o país, pela segunda vez, sob risco da instabilidade política, como ocorrera na época do presidente Collor de Melo. José Dirceu comandava a blindagem ao Presidente Lula, resultando no término do seu mandato e em sua reeleição à presidência. Com o julgamento do mensalão, veio sua derrocada, condenado pelo STF com base em teoria que nunca fora adotada nos meios jurídicos nacionais, a até hoje contestada “ teoria do domínio do fato”, mesmo sem provas concretas de que comandasse o esquema de compra de parlamentares. Afastou-se a necessidade de prova absoluta de culpa para a condenação criminal, contrariando entendimento até então dominante que a tinha como imprescindível. Preso, viu-se afastado do poder político, e ainda cumpre sua condenação. Lembro esses fatos para dizer que, se estivesse presente no comando do PT, certamente as últimas eleições não teriam chegado a esse estágio de guerra, de divisão do País entre “ nós e eles”, de radicalismo sem precedentes. Ele sabe que em caso de enfrentamento, a tradição conservadora do País inviabilizará o governo da Presidente Dilma, com o perigo de uma crise jamais vista, em prejuízo da Democracia. Impossibilitado de atuar politicamente, com seus direitos cassados, não se vislumbra de parte do atual governo alguém capaz de construir pontes, de um diálogo confiável com a oposição, hoje bem mais forte e articulada que antigamente. Como disse, ambos os articuladores,Golbery e José Dirceu, foram e são vítimas da disputa política, que cega os homens e só permite que acreditem naquilo que amam.

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