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Mensagem: Uma Temporada no Purgatório Para Rimbaud, Arthur(in memorian), autor de Une saison en enfer. Sessenta e cinco dias – 15 de junho a 18 de agosto – de permanência na nossa querida Santa Casa, onde fui muito bem tratado, nada tendo a reclamar – senões, os esperados, normais em recuperações de intervenções cirúrgicas como as quatro pelas quais passei em 15 e 16 de junho, 3 e 5 de julho, sem falar na pneumonia que levara comigo. Foram dias de reflexões forçadas sobre o sentido da vida e sua valorização, pois, como muito bem diz meu amigo Joel Antunes , a mesma só da uma safra. Ali, naquele nosocômio de tão gratas e tristes lembranças vi, aprendi e trouxe comigo raros exemplos de solidariedade humana, como também de egoísmo, de apego e desapego a vida, de profissionalismo – aproveito o ensejo para agradecer a todos os que lá cuidaram de mim – e muito me distraí. As observações que se seguem refletem alguns exemplos do que curti nessa longa temporada que não recomendo a ninguém. Procedimento, no jargão hospitalar, consiste em qualquer ato realizado tendo em vista o paciente ou com o próprio, tais como preparar material ou ambiente adequado ao que se seguirá, dar-lhe banho, operá-lo, tomar-lhe a pressão (ou tensão, se na Bahia), fazer curativos etc. Termo correto, pois de maus procedimentos ninguém está a salvo. E intercorrência, de onde vem isso? Nada mais é do que um fato novo, por vezes imprevisto, surgido entre procedimentos, como uma hemorragia ou queda do paciente durante o banho... O paciente surtou, rebelou-se, arrancou soros e sondas do corpo, ergueu-se num rompante sem ainda poder fazê-lo, mordeu o braço da enfermeira? Não se diz “vamos amarrá-lo” às grades do leito e, sim, corretamente, “vamos contê-lo”, pois, tanto ele pode ser realmente amarrado, manietado, como submetido a procedimento medicamentoso que o deixe inerme, o popular sossega leão. Marreco, em hospital é o jarro, 30 cm, de boca larga com alça onde homens fazem xixi, recostados no leito ou de pé. Em casa, usa-se o penico ou urinol, normalmente sentado. É o oposto de comadre, utensílio utilizado para colher o xixi das mulheres, sempre deitadas, ou de ambos os sexos quando o assunto é cocô na cama. Feita essa breve distinção, nós, leigos, dizemos “jogar fora” o conteúdo do marreco, não nos ocorrendo outra expressão para tal. No entanto, profissionais de hospital dizem “desprezar” o conteúdo, ou seja, o xixi. Fiquei a pensar: se há o desprezar, deve haver o que prezar, certo? E há. Como o marreco vem graduado em mililitros, prezar é medir, e muitas vezes registrar, o quanto de xixi se vai desprezar. E como aferir o xixi da comadre? Simples, basta transferi-lo para um marreco... Obrigado pela atenção.
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