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Mensagem: A noite de mil anos Manoel Hygino - Hoje em Dia O jornalista Paulo Narciso, uma das melhores redações da Imprensa mineira, é um cidadão que se preocupa com os problemas de nosso tempo, do homem e da sociedade. Mais do que isso, entende e mais estuda modificações da natureza e do clima. Outro dia, ele registrou que, na madrugada de 21 de junho, sábado, o inverno começaria, oficialmente, às 02h04, com a mais longa noite do ano. Acrescentava que, sexta-feira, o sol se poria mais cedo, às 17h31, só devendo o dia clarear às 6h23 da manhã de sábado. O dia precedente assinalou o período em que a Terra esteve mais afastada do Sol: daí, a noite ser a mais longa e o dia o mais curto. É a data do Solstício de Inverno no Hemisfério Sul, e do de Verão, no Hemisfério Norte, a que as televisões deram grande ênfase, focalizando fantásticos monumentos no Reino Unido. Noite mais longa do ano! O fato nos direciona naturalmente à Idade Média, considerada frequentemente a mais longa das noites da história da humanidade. Contra esse ponto de vista, ergue-se Ivan Lins, belo-horizontino, da Academia Brasileira de Letras, em livros e conferências. Aliás, ao prefaciar um de seus bons livros, Afrânio Peixoto comentou, com toda razão: “A Idade Média, por uma convenção espiritual puramente didática, é o espaço de tempo que medeia entre a Idade Antiga, que termina com o Império Romano, e a Idade Moderna, que começa com a queda da Constantinopla. Pura comodidade cronológica! O tempo antigo não acabou, menos ainda o médio, nem o moderno é geral e constante”. Afrânio segue o raciocínio: “Idade Média, pois, é artifício, porque o tempo e seus caracteres continuam, aqui e ali, e continuarão; porque as divisões e os nomes são recentes e arbitrários. Nada mais errôneo que considerar a idade Média como a noite, o obscurantismo. Quem preparou o Renascimento foi a Idade Média”. Lins emite seu pensamento: “Tão sedutora e cheia de atrativos é essa fase da história, onde, como em paradoxal milagre, surgem – da barbárie e do entrechoque das armas- as virtudes mesmas que constituem hoje o mais precioso apanágio do cavalheirismo; de ensinamentos”. A Idade Média não foi um dia perene, tampouco uma noite de mil anos, como a julgou Michelet. Fala-se repetidamente sobre a Idade Média, para criticá-la. Louva-se e se gaba a beleza e grandeza da civilização romana. Mas se esquece de que, mesmo na fase áurea de Roma, os espíritos de escol não se revoltavam quando o pai deixava os filhos morrerem à porta, de fome e frio, por não querer educá-los. Simultaneamente se ignorava a selvageria habitual dos divertimentos em que mais se apraziam o povo. Ivan Lins pergunta:“Que mais cruel do que os combates de gladiadores, essas matanças humanas, sistematicamente apresentadas ao público como soberbos espetáculos? Nada mais atraía tanto os romanos de todas as classes, e era com volúpia, que os assistentes, inclusive as vestais, se levantavam, freneticamente, como um só indivíduo, para abaixar o polegar e ter a delícia de presenciar o vencedor cravar a espada na garganta do vencido”. A Idade Média surgiu e eliminou esse bárbaro costume, tanto quanto outros, que eram até motivo de orgulho de Roma. A malsinada Idade Média, porém, ainda pode ser identificada em episódios freqüentes do Século XXI.
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