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montesclaros.com - Ano 25 - terça-feira, 5 de novembro de 2024
 

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Mensagem: Augusto Ruschi viveu em Grão Mogol Alberto Sena Grão Mogol, a Cidade Diamante transpira história por todos os poros. Desde meados do século 18, quando o brilho diamantífero fez nascer cidade nas dobras do Maciço do Espinhaço, Grão Mogol se impregna de história. Em linguagem garimpeira, basta levar o carumbé pra beira do rio e recolher entre o cascalho uma história atrás da outra. Acabo de recolher uma no meu carumbé que talvez poucos grãomogolenses saibam: o naturalista Augusto Ruschi, famoso no mundo científico, viveu uma temporada em Grão Mogol. Quem conhece a fama dele compreende, Ruschi era um Pelé do meio ambiente, estudioso de beija-flores. Quem garante ser testemunha da presença do naturalista em Grão Mogol, onde ele instalou um viveiro de beija-flores na outra margem do Ribeirão do Inferno, atrás da Casa da Cultura, é o garimpeiro Herbert Alves do Nascimento. Herbert tinha 9 anos de idade e como quase toda criança daquela época, vivia com estilingue pendurado no pescoço. Não podia ver passarinho que caçava. Um dia Herbert se encontrava próximo ao viveiro, depois de abater uns cinco beija-flores, quando foi advertido pelo próprio Ruschi, em carne e osso. _ Não faça isso não, menino – teria dito ele a Herbert, hoje com 60 anos de idade, garimpeiro de profissão. O menino ficou assustado e a pessoa que acompanhava Ruschi disse logo: _ Não bata no menino, não. Ao que Ruschi teria dito: _ Não vou bater, mas ele precisa entender, estamos preservando esses bichinhos para que possam existir no futuro. Herbert não sabia quem era o homem que lhe falava com tanta autoridade. Simplesmente tratou de ir embora. Muito tempo depois, já adolescente, em 1972, quando circulou a nota de 500 cruzados novos, cuja estampa mostrava a figura de Ruschi, Herbert logo reconheceu ter sido advertido por um homem importante, conhecido em várias partes do mundo pelo seu belíssimo trabalho em defesa dos beija-flores. Ainda hoje o garimpeiro se lembra da cena e se sente orgulhoso por isso. Mas poucas pessoas sabem que Ruschi viveu em Grão Mogol. Gentil Esteves Oliveira, proprietário da Drogaria Nossa Senhora Aparecida, na Rua Cristiano Rello, confirma a presença de Ruschi em Grão Mogol, embora nunca tivesse conversado com o naturalista, mas lembra de tê-lo visto na cidade. Pelo que Herbert apurou depois, inclusive com pessoas já falecidas, Ruschi não fazia o menor esforço para mostrar quem era. A intenção dele, em Grão Mogol, foi simplesmente estudar os beija-flores e mais nada. Queria viver anonimamente. E conseguiu. Segundo disse o garimpeiro, o naturalista famoso se hospedava numa casa de pedras na Rua Hilário Marinho. O único legado dele para Grão Mogol foi uma fotografia em que ele está sentado numa das pedras do Ribeirão do Inferno, próximo da cachoeira. O naturalista morreu aos 72 anos, em 1986, no Hospital São José, em Vitória (ES), onde esteve internado devido a complicações gastroenterológicas agravadas por insuficiência hepática. A causa da morte foi diagnosticada como cirrose hepática. Ruschi submeteu-se a um ritual indígena destinado a curá-lo do veneno de um sapo de espécie dendrobata, que o teria atingido no Amapá. Após o ritual, ele se disse curado dos males do veneno, mas trataria de seus problemas de fígado e estômago pela alopatia. Atuante defensor do meio ambiente, Ruschi se envolveu em várias disputas públicas com empresas e autoridades pela preservação ambiental. Uma delas foi com o governador do Espírito Santo, Élcio Álvares, em 1977, a respeito da instalação de uma fábrica de palmito na Reserva Biológica de Santa Lúcia. Pioneiro no combate ao desmatamento da Amazônia, ele antecipou os efeitos maléficos do reflorestamento com espécies exóticas e do uso de agrotóxicos, entre outros problemas ambientais contemporâneos. Ruschi contribuiu para o ambientalismo e para as ciências. Ele publicou mais de 400 artigos e mais de 20 livros científicos. Foi consagrado pelo respeito entre os estudiosos de sua época e por homenagens recebidas em vida e postumamente. Em 1994, uma lei federal concedeu-lhe o título de “Patrono da Ecologia” no Brasil.

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