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Mensagem: ADEUS, QUERIDO COMPADRE! É, só Deus sabe o quanto você lutou pela vida. Ela queria te deixar, mas você, com a perícia do grande atleta que foi na juventude, dava um laço nela e a fazia voltar pra bem pertinho de você. E também só Deus sabia o quanto você gostava de viver. Sob o manto daquela seriedade congênita escondia uma alma branda, sempre em busca de algo inteligente para alegrar os amigos, a cidade e o país. Você era tão inteligente e líder que dava o mote das coisas para depois curtir as consequências das ações dos outros sobre elas. Daí ter-se tornado nosso grande Chefe. E fazia isso com a boa-fé dos homens de bem, dos homens de coração puro, dos poucos homens que conquistam aquela tão sonhada intimidade com Deus. Você a conquistou, compadre. E eu sabia disso. Conquistou sem fazer alarde, como era próprio de sua personalidade, de uma maneira sublime e, porque não dizer, sutil. Devagar, sem a mínima pressa, ela foi chegando em você e purificando, cada dia mais um pouquinho, com gotas de amor, sua nobre vida. Compadre, se eu for lembrar aqui os momentos que vivemos juntos escreveria - e você sabe disso - um livro de mais de trezentas páginas. Alguns deles remontam à nossa juventude, ao segundo andar do casarão de Wilson Veloso e de D. Neuza. Nunca me esqueço do piano da sala. E da imensa travessa de arroz branco, fumegante, para alimentar a criançada da casa e os convivas. Lembra daquela noite em que ficamos, os dois, até o dia amanhecer, sentados no cimento frio da redonda bomba da Esso, perto de sua casa, violão em punho, ensaiando a música ´O Amor em Paz´, do Tom Jobim? Anos depois, já velhos, repetiríamos aquele momento, só que, desta feita, no bar de sua majestosa residência, para criarmos a paródia ´Sô Nem´, também com música do grande maestro. Juntos estudamos, residimos em repúblicas em Belô e juntos praticamos alguns esportes, inclusive o basquete, até em seu querido Cruzeiro que, juntos, em Santiago do Chile, vimos ganhar a primeira Libertadores. E eu, atleticano, a gritar o nome de seu time depois da conquista, acho que mais para homenageá-lo do que a qualquer outra coisa. Você e comadre Ângela batizaram minha Thetê. Quis demonstrar, nesta escolha, apenas o quanto lhe queria bem, porque a gente escolhe para estes misteres apenas as pessoas que mais amamos. Estivemos juntos nos nascimentos de seus dois filhos e nos casamentos deles. Celebramos suas bodas de prata, no casamento de Vanessa. É meu compadre, viajamos muito juntos. Agora não posso te acompanhar nesta sua mais nova viagem. Sabe que gostaria de estar a seu lado também neste momento? Sabe que seria até prazeroso para mim? No entanto, Deus quis que eu ficasse por aqui mais um tempinho, sem você, com um pedaço de mim mutilado por sua partida. Você encantou, como dizia o grande Rosa, muito cedo, mas sua vida, como cantava o vate lusitano, valeu a pena, porque sua alma nunca foi pequena. Até breve, Compadre! Vê se encontra por aí com Cláudio Athayde, Wanderley Fagundes, Dácio Cabeludo, Afrânio Temponi e outros amigos. Pensem, por favor, em preparar as recepções dos que ainda ficaram por aqui. Grande Haroldo Furtado Veloso! Palmas, cheias de lágrimas, para você!
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