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montesclaros.com - Ano 25 - sábado, 28 de dezembro de 2024
 

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Mensagem: Uma visão nítida de Rosa Manoel Hygino - Hoje em Dia Na edição nº 17, da revista “In Verbis”, pude ler o excelente texto do juiz Luiz Audebert Delage Filho, hoje desembargador—corregedor do Tribunal de Justiça de Minas Gerais, focalizando “Guimarães Rosa, o sertão e o homem”. O magistrado não é da região em que Rosa nasceu. Pelo contrário, é de Juiz de Fora, mas juiz de direito da comarca de Pirapora, sentiu-se motivado a escrever, em abril de 1985, sobre o tema, quando a Rede Globo ali filmava para a minissérie sobre “Grande Sertão: Veredas”. Delage assimilou a essência do escritor de Cordisburgo, porta de entrada do sertão. Sua resenha é das mais adequadas ao sentimento de Rosa ao relatar as aventuras dos jagunços que guerreavam para domínio da região, terminando os embates míticos no Rio do Sono. Embora reconhecendo ser difícil “sintetizar Guimarães Rosa e sua obra-prima Grande Sertão: Veredas”, por o escritor e a obra deverem “ser focados sob o aspecto da genialidade”, muito bem se houve o autor da resenha, valendo-se do adjutório de Franklin de Oliveira, de Alan Viggiano, mineiro de Inhapim, e de Leonardo Arroyo. Quem quiser ingressar na obra de Rosa encontrará uma ajuda valiosa em Delage Filho. Diz ele: “Em Grande Sertão: Veredas, a estória é contada sob a aparência de diálogo, mas, na verdade, é um colossal monólogo. É a estória de Riobaldo, quando não é mais jagunço, quando já deixou a jagunçagem para ser estável fazendeiro, a passar o melhor de seu tempo no “bem bom do range-rede”, em recordações e dúvidas, sendo a maior delas a existência do diabo, “o diabo na rua, no meio de redemoinho”- refrão do livro e se realmente ele, Riobaldo, se tornara pactário ao vender a alma, à meia-noite, nas “veredas mortas”, pelas glórias do comando”. O artigo em questão nos faz reviver, calidamente, toda a aventura relatada por Rosa, a partir da própria personalidade de Riobaldo, o herói problemático, o fáustico, pactário, herói resoluto, que trai a si mesmo; e o místico, herói frustrado. “O romance começa e todo ele é uma evocação de sua vida, portanto, não mais a história de um homem de ação, mas de um homem que interroga. De algum modo, um romance de ilusões perdidas”. Nos bandos em guerra, aparece Riobaldo, ex-menino pobre do Vale do São Francisco e que, certo dia, saiu pelo mundo para pagar promessa e encontra um outro, com quem aprende a lição da coragem. É Reinaldo, que acompanhava Joca Ramiro, outro jagunço, já cheio de glória, depois assassinado por Hermógenes, a quem decidiria liquidar, onde fosse e na oportunidade que surgisse. É um enredo intrigante, que Rosa valoriza esplendidamente com linguagem fantástica, em que se misturam palavras e expressões de uso regional com raízes do português antigo, bem do conhecimento do autor. No âmago da estória, como refere Luiz Audebert, o segredo maior do personagem Reinaldo, jagunço respeitado, por quem Riobaldo nutria amor inconfessável. Num corpo a corpo, a faca, entre Reinaldo e o inimigo Hermógenes, que matara, à traição, seu pai, ambos morrem. Revela-se, com o trágico fim, que Reinaldo era simplesmente mulher, de apelido Diadorin, que o pai criara desde pequena como homem, “destinando-a às duras guerras do sertão”. Por batismo, era Maria Deadorina da Fé Bettencourt Marins, “que nascera para o dever de guerrear e nunca ter medo, e mais para muito amar, sem gozo do amor”. Cumpria-se o destino bem arquitetado por Guimarães Rosa, insuperável ao transpor às letras as sagas da grande região de Minas.

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