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montesclaros.com - Ano 25 - quinta-feira, 7 de novembro de 2024
 

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Mensagem: Onde fica o buraco do carnaval? Alberto Sena Carnaval em Montes Claros, na década de 60, era excitante e sabíamos, mas fazíamos de conta que não. Era no Automóvel Clube. Carnaval de rua não havia. Se acaso descesse em Montes Claros um ET durante o reinado de Momo, achando que ia se esbaldar até o sol raiar, coitado, podia ir tirando logo a sua navezinha da chuva porque decepcionado ficaria achando ter descido em lugar errado. Nas ruas da cidade não se encontrava sinal de festejo carnavalesco. A opção era ir pra Januária ou pra Pirapora. Mas havia um “porém” de ordem psicossocial principalmente em Januária. A moçada de lá não conseguia administrar o ciúme em relação à rapaziada de Montes Claros. Numa vez reunimos uma turma e fomos pra Januária. Tivemos de sair correndo da cidade para não sermos linchados. Quando percebemos as caras amarradas e os olhares fulminantes demos um giro de 360 graus nos calcanhares e caímos fora. Saímos ilesos. No Automóvel Clube de Montes Claros, ambiente fechado, o carnaval era outra coisa. Aquilo parecia um caldeirão fervente. Mas difícil era encontrar ânimo logo no início da peleja. Aos primeiros rufares de tambor, entrar naquela roda de gente parada na pista observando ousados gatos pingados circulando com o braço sobre os ombros de garotas acanhadas e suadas, adornadas de confetes e de serpentinas, era uma cena no mínimo ridícula. O estímulo para entrar na roda e esgoelar as músicas antigas – “mas que calor ôôô... será que ele é transviadooo... corta os cabelos dele, corta os cabelos dele...” e outros refrãos – era necessário recorrer ao boteco do Alcides, na esquina das ruas Dr. Santos e Dom João Antônio Pimenta. Tinha lá uma batida de limão que era um santo remédio para esquentar as partes internas do corpo e nos levar a ganhar coragem para uma incursão na pista. Um copo cheio bebido num gutegute só, era suficiente. Retornávamos ao Automóvel Clube pisando nas nuvens ao ponto de percebermos as batidas do tambor dentro do próprio peito. Com o tanque devidamente abastecido, pulávamos – sim, o verbo era esse, “pular carnaval” – a noite inteira, até às 5h da manhã. As panturrilhas, antigamente chamadas de “batatas das pernas”, ficavam doloridas. E de tanto esgoelar, não tínhamos mais nem voz no dia seguinte. Nas noites subsequentes, a estratégia era a mesma a fim de estimular o esqueleto e entrar no samba. Ao final, na quarta-feira, ainda havia quem ousava afrontar os padres Dudu e Agostinho indo receber as cinzas na testa, na maior cara de pau, como se tivesse dormido a noite inteira, mentira facilmente percebida a partir do exalar do bafo de álcool e aquele gosto de cabo de guarda-chuva na boca dos infiéis. O mais excitante acontecia na sacada do Automóvel Clube, numa época em que Montes Claros mal mal havia concebido o seu primeiro motel considerado “casa do capeta” por parte da tradicional família montesclarina. Não se podia aceitar nem mesmo a possibilidade de passar na porta “daquele antro”. Numa das noites em que o baile de carnaval, como se dizia, pegava fogo, aconteceu algo inusitado. Podia ser dramático se não fosse hilário. Um dos jovens da turma de então se encontrava naquela base com uma garota, num esfrega esfrega, amasso só, na sacada, quando apareceu de repente o pai dela. O colega apanhado em flagrante delito, não tendo o que dizer, tamanha a falta de graça, simplesmente se virou para o transtornado pai e disse: “O senhor é servido?” Claro, ele não esperou a resposta. A moça foi arrancada duma vez e ele deve estar correndo até hoje porque o pai dela ficou uma arara. Mais nervoso teria ficado se vivo ele fosse e visse o que acontece nos carnavais atuais. As preocupações com o que rola na festa de Momo agora atormentam a cabeça da filha dele, hoje mãe e até avó, certamente, se se puder apurar o paradeiro dela nos dias atuais a fim de confirmar as suspeitas. Para evitar más interpretações, é bom deixar bem claro, aqui, uma ressalva: hoje, acreditamos, o carnaval de Montes Claros transcorre numa maré mansa. O carnaval atual está destrambelhado é em outros lugares deste Brasil varonil, onde as pessoas nem se dão mais ao trabalho de ingerir copo cheio de batida de limão. Isso é café pequeno. E pra pobre. O buraco é bem mais embaixo. Ou bem mais encima? Sei lá!

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