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Mensagem: MEU CARNAVAL DE JANUÁRIA Engraçado, às vezes a gente pensa sem falar, fala sem pensar e às vezes pensa e fala desenfreadamente. Foi o que me aconteceu quando soube da feliz homenagem a Lenine pelo Couro de Gato. Foi um grande impulso, um maravilhoso flash back, meu, de Wanda Tôrres, um retorno aos carnavais de outrora. De repente, me vi nos idos de 50, iniciando meu sonho carnavalesco patrocinado por Lé, Lenine, o nosso querido folião-mor de Januária, Merecidamente homenageado. Era fevereiro de 53: Lenine visitou minha casa (era assim naquela época), com todo o seu carisma, e comunicou ao meu pai Laurindo a ´fundação´ do seu bloco carnavalesco e o desejo que suas duas filhas, Wanda e Vera, 14 e 15 anos, fizessem parte do bloco. Depois de muitas considerações e compromissos estava liberado o alvará – íamos poder participar do tríduo do momo. De lá, Lé, com Dona Flávia Aquino Vassalo, sua tia, a tiracolo, percorreu as casas das outras famílias em busca de autorização dos pais para que as meninas da época pudessem brincar o carnaval sob a sua vigilância. Começou assim o MEU CARNAVAL DE JANUÁRIA, que perdurou até a década de 70. Não sei exatamente quando o Couro de Gato parou de acalorar o carnaval de rua de Januária, mas isso não importa, o extraordinário é que foram duas décadas de glória e contentamento: muita alegria, samba, folia, amizades sadias, e muito suor. Recordo-me com saudades de alguns fatos ´sui generis´ que marcavam esses anos. Por exemplo: os ensaios de carnaval aconteciam no imortal Clube dos ´40´, e começavam em janeiro. Aprendíamos e cantávamos todos os sambas e marchas lançadas naquele ano. Tinha um livro cifrado para os músicos que Lenine encomendava do Rio de janeiro. Ouvia a Rádio Nacional até altas madrugadas para selecionar cuidadosamente todas as músicas que cantaríamos,. Nunca errou nos sucessos do ano. E as letras? As letras, nós comprávamos a ´Revista do Rádio´, que trazia todas as músicas do carnaval, e não eram poucas... Ah, os ensaios, estes eram verdadeiros pré-carnavais. O clima de alegria já reinava em nossos encontros. A escolha das fantasias do bloco, fabricadas pela sempre presente e participativa dona Zizi. Grande dona Zizi! E a dúvida de todo ano: João Moreira vem ou não vem? Ele morava em Manga, músico dos mais importantes desde o início do Couro de Gato. Quando chegava a notícia por telegrama: João Moreira vai chegar amanhã no Wenceslau Braz! Lenine suspirava aliviado, o sucesso estava garantido. E Helena Escobar? Essa trabalhava na Loja de seu Emílio de Matos. Cabia a mim ir lá todo ano pedir seu Emílio pra Helena não trabalhar na segunda-feira. Afinal, não era feriado e o comércio funcionava. Liberada Helena, pulos de alegria. Obrigada, Santo Emilio de Matos! Quando chegava o grande dia: domingo de carnaval, 16:00 horas, todos iam para a casa de dona Zizi. Os foliões iam chegando aos poucos, ansiosos, encalorados, encabulados, alguns tímidos, outros assanhados até demais, mas bastavam os primeiros acordes do samba ´Fala Couro de Gato, Fala Meu Tamborim...´ Pronto, supitava alegria por todos os poros. Não precisava bebida alcoólica, nem porre de lança perfume, embora tudo fosse livre, lança perfume Rodoro, tubo metálico dourado. Aquele perfume que guardávamos na fantasia de um ano para o outro como se quiséssemos eternizar o carnaval. Vinha o desfile, as ruas sempre cheias, a platéia fiel com seus sorrisos de aprovação nos incentivava a continuar exibindo nossos passos de samba e marcha. Até arriscávamos uns passos de frevo. Quando o sol já declinava, na praça em frente a loja de Zé Santana, a ordem era abrir alas e a orquestra lançava nos ares os acordes do eterno frevo do Recife ´Ô Ô Ô Ô Ô saudade, saudade tão grande...´ e os passos do frevo começavam a evoluir no meio da praça, liderados por Leozinha, que deixando momentaneamente o estandarte de porta-bandeira incentivava as outras foliãs a se abandonarem ao frenético ritmo do frevo. Era o apogeu do Couro de Gato! Em seguida, sempre vinha um prêmio: o convite para o bloco entrar na casa de seu Tibério Bastos. Lá mesmo, na praça, sob as severas recomendações de Lenine para o conveniente comportamento naquela residência, o bloco entrava. Que recepção calorosa, com que alegria dona Dália e seu Tibério abriam as portas do solar dos Bastos para nos receber. Um verdadeiro banquete de guloseimas, doces, salgados, biscoitos, refrigerantes e cerveja. Saciados, o salão da residência ficava a disposição dos carnavalescos para as evoluções, que reabastecidos e animados pela cervejinha, tomada com parcimônia apesar da fartura, se esmeravam para agradar os anfitriões que não poupavam, durante a apresentação chuvas de confetes, serpentinas, lança perfume e aplausos. Era só alegria, o mais puro carnaval. Ao sair do solar dos Bastos, mais algumas voltas na praça Getúlio Vargas, Avenida São Francisco e o encerramento na porta de Dona Zizi, que nos aguardava com aquele sorriso de aprovação, enquanto fazíamos em sua homenagem uma roda de samba ao som de ´Fala Couro de Gato´. Não posso me esquecer da eleição da primeira rainha do carnaval de Januária, candidata do Couro de Gato que por sinal foi Regina Tôrres, minha irmã. Vou tentar levá-la comigo. Alguns anos depois, não me lembro quando, o mesmo Couro de Gato elegeu a rainha do carnaval de Januária, também minha irmã, Fátima Tôrres. E que eleições, hein, Lenine? E a marchinha de carnaval de Seu Raul Corrêa e Mauro: ´perdi minha camisa verde, perdi, perdi meu tamborim...´ Ainda uma curiosidade que me recordo: a folia continuava à noite, no saudoso ´Clube dos 40´. Lá, Lenine estava sempre de olho nas participantes do bloco: - não cantem, não cantem, guardem a voz para o Couro de Gato. Passávamos aquela noite e as seguintes tentando poupar a voz para cantar no bloco para explodir na 3ª feira, já que na quarta não tinha bloco. Que pena! Teríamos que esperar outros 365 dias para ter mais um Carnaval. Mais um ´MEU CARNAVAL DE JANUARIA!´ Não posso encerrar sem homenagear o meu ´Clube dos 40´. Sim, é meu, é seu, é nosso. É de todos aqueles que sob o seu teto embalaram os mais lindos sonhos da juventude. Era grandioso, era belo, suntuoso, único. Nem um se comparava a ele. Qualquer Municipal do Rio se curvava diante dele, simplesmente porque ele era “nosso”: nele celebramos nossos mais belos dias, por onde nossas histórias caminharam, e muitos sonhos se tornaram realidade. Sim, ´Clube dos 40´, outros clubes vieram, mas, você foi o mais importante. Vou fazer agora uma chamada de todos os participantes da fundação do Couro de Gato, que a memória me facultar lembrar, mesmo que já tenham partido. Se alguém se lembrar de outros, por favor, ajuda-me. Dona Zizi, a matriarca; Lenine, seu fundador; Dadá, sua primeira e linda porta-bandeira; e mais: Haroldo, Hélio, Milton, Zulma, Zelma, Zilma, Domingos, Mauro, Leni, Corby, Gió, Ieda, Reinaldo, Vera, Marly, Zé Ferreira, Álvaro, Imaculada, Gerardus, Afonso, Vera, Wanda, Joãozinho e Diva, Siderite, Terezinha do Sesp, Neide, Toinho Rocha, Anita, Helena e Terezinha Escobar, Saquarema, Zé Carneiro, Isaias, Augustão, João Moreira, Manoel, Genésio... Sei que tem mais, perdoem-me os que não me lembrei, o problema é o 7.6. – a idade. Mas, vamos gente! ´Se a canoa não virar olê, olê, olá, eu chego lá....´ Este é o Carnaval de Januária que eu não me canso de pensar. Quero estar lá este ano de 2014 para junto com meus conterrâneos homenagear o maior carnavalesco que Januária já teve: Lênine. Que acordem todos: ´não deixa o samba morrer, não deixa o samba acabar!” Quero aplaudir vocês...
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