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Mensagem: Nunca alimentei a esperança do homem bom de Rousseau ,corrompido em sua inocência pela sociedade. A maldade nos é inata, mas a civilização impôs frenagens aos nossos instintos ancestrais, mitigando ou domesticando nossas naturais inclinações à barbárie, ao aniquilamento do outro motivado por nossos pendores egoísticos. O mal, entretanto, lateja em nós, e é contra este demônio interior que travamos a nossa luta mais renhida, de tão difícil êxito que nominamos santos aqueles que conseguiram domar seus desejos , aplacando em si a semente das ambições mundanas. O Budismo chama de nirvana este estágio espiritual. O Cristianismo, ao sinalizar desapego material e busca de uma vida eterna, de caráter espiritual, vai pelo mesmo caminho do preceito budista. Conseguimos, apesar de todos os ingredientes contrários, chegarmos ao estágio civilizatório atual, mesmo ao custo de guerras, de terrorismos de todas as espécies e da melancolia geral. Mas é preciso atenção permanente. Nunca deixar de se indignar com o mal, com a imensurável capacidade do exercício da torpeza e da hipocrisia em sociedade .Mas é preciso compreender a luta pela sobrevivência e seus excessos, o que não significa aceitá-los. Enfim, a luta por espaços numa sociedade consumista e hedonista fomenta o enfrentamento. Todos querem a felicidade pessoal, como se fosse possível encontrá-la em um ambiente socialmente desigual , onde se come em restaurantes rodeado de pedintes que, em geral enxotados, nos aguardam nas esquinas para nos tirar um naco de patrimônio, quando não a vida. Certo é que, mesmo atribulada e com todos seus reveses, a vida vale a pena. Vale principalmente se for vivida de modo consciente, sabendo que a caminhada tem início e fim, mas que no caminho é possível compor a paisagem, dando-lhe nuances e coloridos pessoais, no fazer cotidiano de cada um. Não é preciso despojar-se de bens materiais, nem ser sábio ou asceta, mas tão somente lembrar-se quer ninguém vive sozinho e que em sociedade caminha-se mais facilmente de mãos dadas, e por isso a alegria do outro é uma necessidade. Afinal, não há nada mais desagradável que a companhia de alguém alquebrado pela tristeza, infeliz. Sentir a dor do outro e se colocar em seu lugar são requisitos para uma boa convivência, ciente que a tolerância é uma das maiores virtudes humanas. Como disse um velho índio norte-americano, que não se julgue um homem sem andar sete luas com suas sandálias. Fundamentalmente, é preciso amar. Sem medo e sem limites, pois este patrimônio aumenta na medida em que é distribuído. Há algo melhor e mais gratificante que ser útil a alguém na prestação de um obséquio, de suprir uma lacuna com uma ação desinteressada? Humanidade é isso, são esses laços que tecemos e que formam as imagens das nossas vidas, do que somos e do que aqui deixaremos quando, já alheios à voz do mundo, tornarmos-nos tão somente a vaga lembrança de algum gesto bom na memória de uns poucos. Não há tempo a perder, a areia da ampulheta vaticina o fim do percurso, da jornada de cada um, e a messe anseia por mãos desprendidas e laboriosas. Também é preciso arrostar os medos, afinal todos eles são filiais do ancestral medo da morte, e a história não prescinde de homens que, mantendo a prudência, ousam enfrentar os desafios, construindo pontes sobre abismos da ignorância e do mal, criando um porto seguro aos novos caminhantes. Neste natal que se avizinha, muito mais que dar presentes , que a semente da verdade brote em cada um de nós para, alheios às paixões momentâneas e ambições pessoais, cumprirmos o desiderato do Crucificado, que deu sua vida como sinal de amor aos homens,mesmo posto sob o suplício dos ferros que lhe atravessaram as carnes, mas não violaram seu coração incorruptível. Feliz Natal e próspero ano novo a todos os homens e mulheres do mundo!
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