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Mensagem: Sabedoria do velho na esquina da vida Alberto Sena No tempo em que se podia sentar à porta de casa com a família e os vizinhos a fim de bater-papo e fugir do calorão, Montes Claros fazia cem anos. Era uma cidade pacata, embora mantivesse a fama de lugar de gentes valentes, haja vista o episódio político de 1930, protagonizado por Dona Tiburtina, mulher do Dr. João Alves, que fez o presidente Melo Viana voltar para a capital de marcha a ré, na Maria Fumaça que o levara a Montes Claros. Dona Tiburtina tornou-se até personagem do jornalista, escritor e deputado federal Fernando Gabeira, no livro “Sinais de Vida no Planeta Minas”. Ademais disso, Montes Claros, pode-se dizer, era um lugar que tinha qualidade de vida. Acredite, esse tempo existiu. Para não deixar de lembras das pessoas que não perdem a oportunidade de reclamar das coisas, os problemas sempre foram relacionados ao período das águas. Uns anos choviam bem noutros era seca brava. Naquele tempo em que podíamos sentar nas calçadas com os vizinhos aconteciam de vez em quando um e outro assassinato, inclusive de ordem política. Acontecia de o pistoleiro matar e fugir pra Jaíba. Jaíba de hoje já foi um lugar onde se podia refugiar e na maioria das vezes a polícia não ousava nem ir lá. Houve inclusive, na década de 60, o famoso caso do posseiro Saluzinho, que enfrentou homens do 10º Batalhão e do Departamento de Ordem Política e Social (Dops), de Belo Horizonte, escondido numa caverna. Jogaram bombas de gás lacrimogêneo na caverna para obrigá-lo a sair e ele só saiu quando quis. Hoje, Jaíba é sinônimo de prosperidade. Montes Claros d’agora não dá nem para comparar àquele tempo em que se podia sentar com os vizinhos nas calçadas. O intento nem é fazer comparações, mas lembrar da existência de um tempo assim para que as pessoas possam idealizar algo novo para resgatar a qualidade de vida da cidade. As cidades grandes precisam parar de crescer. E as médias e pequenas convém ficarem como estão porque não é a expansão horizontal ou vertical sinal do verdadeiro progresso de uma cidade, e sim, como a cidade é cuidada para o bem-estar dos seus habitantes. Paradoxalmente, Montes Claros é linda vista do alto e mais no fim da tarde quando as luzes se acendem. Nesse momento se pode constatar a expansão horizontal e vertical da cidade. Mas o progresso não deve ser medido baseado só na economia. Antes é melhor ser do que ter. A sociedade que conjuga o verbo ser certamente colherá por acréscimo os frutos econômicos. Montes Claros possui lindo nascer e pôr do sol. Os mais bonitos do planeta. Nos arredores da cidade há muito que fazer e divertir, mas a urbe em si não oferece condição aos cidadãos de transitarem pelas ruas em segurança. A insegurança pública é um fator preponderante. Ela estimula o preconceito. Gera o medo. E até mesmo alucinações em pessoas que desconhecem a força do temor. “O que tememos acontece”, dizia um velho deitado na esquina da vida. O que fazer para melhorar Montes Claros com as suas estreitas ruas abarrotadas de carros, motocicletas, bicicletas e, sobretudo gente da terra e de vários lugares de Minas e do Brasil? A pergunta salta, inopinadamente em busca de resposta. Quem tiver uma dê um passo à frente. Como tudo abaixo de Deus está relacionado com a política, que tal reunir a uma mesa redonda um grupo de pessoas amantes da cidade, independentemente de partido político, a fim de trocar ideias sobre ações para tornar Montes Claros um bom lugar onde viver? Um plano diretor é preciso, diria Fernando Pessoa se fosse mais da terra do que do mar. Porque é necessário, deve ter precisão, tendo em vista a Montes Claros das próximas cinco décadas. Pensar hoje nisso e tomar atitude nesse sentido é a mesma coisa que projetar o futuro. Quem ama verdadeiramente a cidade deve agir agora, porque o tempo em que se podia sentar nas calçadas com os vizinhos é só uma lembrança. No máximo poderá servir de parâmetro para ideias novas. Nesse mundo movido pela tecnologia, considerando o que desponta na linha do horizonte da vida dos que aqui estão e muito mais na daqueles ainda no útero materno, urge repensar Montes Claros. “Antes tarde do que mais tarde”, como dizia o velho deitado na esquina da vida.
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