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montesclaros.com - Ano 25 - quinta-feira, 14 de novembro de 2024
 

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Mensagem: A infraestrutura médica

Manoel Hygino

O problema da carência de médicos no Brasil continua na ordem do dia. A ideia que se tem e que se comenta sobre o tema é vária. Por que faltariam médicos aqui? Temos o maior país da América do Sul em termos geográficos e de maior população; os profissionais desta área “ganhariam” bem e os respectivos cursos são os mais disputados nos vestibulares. Logo...
Algo está errado. Se temos de importar médicos e se eles são efetivamente competentes, não há de temer a revalidação da habilitação conseguida no país de origem. De fato, as condições de exercício do ofício em regiões recônditas são más, quando não péssimas. Inexistem equipamentos mínimos de saúde, há falta até de farmácia impedindo medicina responsável, o que, aliás, ocorre também na periferia das cidades maiores.
Verdadeiramente, estamos atrasados e quem desejar comparar pode recorrer aos romances do século passado ou às crônicas dos médicos que tiveram a coragem de enfrentar as dificuldades nos grotões. Um dos livros recomendados seria “Jornal de Serra Verde”, de Waldemar Versiani dos Anjos, romancista de excelentes predicados e irmão de Cyro dos Anjos, ex-membro da Academia Brasileira de Letras.
Iara Tribuzzi, sua sobrinha, recorda aqueles aparentemente remotos tempos heroicos da medicina, não tão distantes na prática. Ela evoca a personalidade do tio - médico, calmo, paciente e bem humorado. Era uma época em que o único exame disponível no sertão era o de fezes. E as moças ficavam acanhadas de enviar o “material” para o médico, que fazia às vezes de laboratorista.
Diante das circunstâncias inarredáveis, certa vez uma das clientes levou, bem lavada, uma latinha azul de pó de arroz Lady (que a gente simples chamava de Ladí), perfumou-a com o melhor dos perfumes - talvez “Je reviens” - e a enviou ao discípulo de Hipócrates, incluído nos sonhos da população feminina casadoira.
Imagine-se a surpresa do médico com o presente. Sobreveio o constrangimento ao abrir a latinha, em um tempo em que não se pensava sequer mencionar palavras como urina, sangue, menstruação, gravidez, nem suor. Como se terá comportado o novo médico procedente da capital com o diploma dependurado na parede do consultório? Iara cogita: “Teve vontade de rir, enfrentando material tão caprichado?”
Mesmo assim, boa era aquela época, tranquila e plácida. Hoje, o problema dos médicos chega ao mais alto tribunal de Justiça do país. O objetivo é melhorar a assistência. Vamos ver se se consegue. O Brasil precisa.

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