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montesclaros.com - Ano 25 - sexta-feira, 15 de novembro de 2024
 

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Mensagem: João Chaves e o mar HAROLDO LÍVIO Recorda-se que na letra da modinha “Amo-te muito”, o poeta diz que ama sua musa inspiradora “como a onda à praia e a praia à onda que a vem beijar”. Mais adiante, em outro verso inspirado no oceano, ele declara à amada: “amo-te como a branca pérola ama as entranhas do infinito mar”. Na obra do bardo imortal, há outras passagens inspiradas pela beleza da paisagem marinha. Essas referências reincidentes indicam que o autor sofreu forte impressão do mar na elaboração de sua vasta obra poética. O mestre Darcy Ribeiro, em seu livro “Aos trancos e barrancos”, comentou essa influência e a estranhou. Segundo assegurou o fundador da Universidade de Brasília e montes-clarense da gema, João Chaves teria imaginado o mar sem nunca tê-lo visto de perto, talvez o imaginando apenas por fotos e gravuras. Enganou-se, redondamente e por descuido, prestando ao seu leitor uma informação curiosa que não confere com a biografia do imortal compositor de Montes Claros, por quem nutria admiração e respeito. Em bate-papo com um neto de João Chaves, o Dr. Henriquinho Chaves, grande conhecedor da vida de seu avô, fiquei sabendo que o bardo, em sua mocidade, morou ,durante algum tempo, em Niterói. Como esta cidade fica do outro lado da Baía de Guanabara e tem belas praias, é de se supor que ele tomou banhos de mar. Só lamento que o senador Darcy Ribeiro não se encontre mais, entre nós, para sanar o equívoco em outro de seus deliciosos livros de memórias. A História registra mais de um caso de celebridade que nunca se afastou de sua cidade natal e, no entanto, apesar do isolamento, construiu obra que atravessa os séculos. Dizem que o filósofo Emanuel Kant escreveu todos os seus livros sem ir além dos muros da cidade medieval de Koenigsberg, na Alemanha. Custa crer num fato desta natureza, mas é a pura verdade. Aqui, no Brasil, temos um caso semelhante, também de um de nossos maiores compositores, Zequinha de Abreu, autor do chorinho “Tico-tico no fubá” e da valsa “Branca”, conhecidos mundialmente. Ele nasceu, cresceu e viveu na cidade paulista de Santa Rita de Passa Quatro, recluso em sua solidão de apaixonado, sem jamais haver transposto os limites do perímetro urbano. Assim viveu, assim morreu e deixou uma obra imperecível. Kant e Zequinha, coitados, nunca viram o mar e perderam o maior espetáculo da Terra. Já João Chaves, muito pelo contrário, nadou de braçada...

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