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montesclaros.com - Ano 25 - sexta-feira, 15 de novembro de 2024
 

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Mensagem: Muito barulho por nada Isaias Caldeira Desgraçadamente sou um empedernido humanista, maturado nas lições hauridas nas observações cotidianas, consolidado o vezo na leitura de escritores humanistas , todos eles assentados nas obras do bardo inglês, Shakespeare, que tem entre suas extraordinárias e incomparáveis criações aquela que leva o título acima, prenhe de humor e tragédia, onde a calúnia é um dos pilares da estória. Esta velha chaga sangra, mesmo mudados os tempos e os costumes, e hoje tem a chancela do Estado. Não são mais as relações pessoais, com ênfase em questões amorosas, o pântano em que viceja esta mórbida flor amoral. Sua gênese medra, hodiernamente, nas intrigas políticas, fomentadas por ações de agentes do Estado e apaninguados, que conspiram à moda medieval , e como novos “ comissários do povo” tramam seus atos tendo por mote a apodada “ moralidade pública”, esta que põe-se a serviço dos objetivos mais torpes, ela que é a mais subjetiva das construções hermenêuticas. A moralidade pública veste-se segundo o figurino do seu tempo e despe-se segundo a tara dos que usam seus préstimos. Foi ela o combustível da Inquisição e de quase todos os genocídios, em todos os tempos, perpetrados por déspotas e pseudo-democratas, tendo por fundo, quase sempre, as palavras de ordem em apoio ao morticínio e ao justiceiro, gritadas pelos algozes e repetidas pela massa ignara. O dolo desses carniceiros reside na consciência de que agem amparados em sofismas, em indícios claudicantes, e que pretextam tão somente para atingir objetivos pessoais ou de grupos, mesmo destruindo pessoas, pois a honra pessoal é atributo indispensável ao homem, e sua privação o nivela aos animais irracionais. Não há vida plena sem honra , pois a vergonha a inibe de ver-se , de sua auto-imagem,pois aos olhos da vítima é a pecha que lhe foi imposta que se revela no espelho, tomando o lugar de sua face real, de sua identidade.Para a platéia se dirigem os atos vis dos guardiões da moralidade e a destruição do outro mostra-se sob a roupagem do politicamente correto, do bom-mocismo, da defesa da ética, que tem no combate à corrupção a mais justa aspiração dos cidadãos. Mas este viés é aparente, é apenas o mote desses guardas de quarteirão para o implemento de suas vilanias. É nesta enseada que lançam suas âncoras. Não lhes atormenta a injustiça perpetrada, e nem os norteia sequer a inútil indignação da Rainha Isabel , ao ver ir ao patíbulo sua prima Maria,que sabia inocente, perante a multidão. Da inteligência de Schiller,obrou-se esta pérola, o registro, posto aos olhos da posteridade, da subserviência ao populismo: “Oh, escravidão de servir o povo, vergonhosa escravidão! Já estou cansada de queimar incenso nas aras desse ídolo que intimamente desprezo. Quando ficarei livre no meu trono? Sou obrigada a respeitar a opinião, forçar o aplauso da turba, dar razão a uma ralé que ama os espetáculos. Oh, não é rei quem procura agradar ao mundo! mas sim quem não tem precisão de regrar a sua conduta pela opinião dos homens”. Os justiceiros de hoje repetem a pantomina, e depois de despedaçarem vidas, imoladas no patíbulo público, se reúnem e gozam seus feitos, indiferentes às lágrimas inocentes, sem um grama de arrependimento, pois despidos de consciência e vestidos da brutalidade dos ímpios. Sei que não é fácil combater quem usa de bons argumentos , do poder das palavras e de sofismas para plantar suas verdades, mesmo que escritas sobre a areia, ciente do permanente descontentamento popular com seus dirigentes, em todos os tempos. O que consola é saber que, apesar dos estragos causados, a verdade quase sempre vence, e os salvadores de hoje podem, amanhã, terem revisadas suas biografias, onde a infâmia e a desonestidade sejam a marca escarlate que justificaram suas vidas. Aos caluniados e difamados de hoje consola a máxima do poeta gaúcho: “ eles passarão, eu passarinho”.

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