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montesclaros.com - Ano 25 - domingo, 17 de novembro de 2024
 

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Mensagem: Montes Claros criança em 1953 Haroldo Lívio Esta crônica é só para registrar lembranças que não couberam na outra em que contei minha chegada nesta cidade, há sessenta anos passados. Não falei do mercado municipal, onde pulsava o coração da pequena metrópole sertaneja. Era ali, por perto dele, que aconteciam os fatos mais importantes do cotidiano. Negócios, comícios, mortes, prisões. Quem fosse ao mercado voltava para casa sempre trazendo novidades. Seu relógio marcava as horas e era ouvido longe, porque não havia o barulho do trânsito nem prédios altos impedindo a propagação do som. Já que falei de trânsito, antes que me esqueça, quero lembrar que a cidade contava com apenas um guarda de trânsito, o inspetor Pimentel, do DET, que ficava na esquina de Dr. Santos com a Praça Dr. Carlos Versiani orientando o fluxo de veículos. Nesse caso, o guarda podia chamar o condutor do carro pelo nome, uma vez que havia poucos carros. Possuir um carro era luxo permitido a milionários, como o capitão Enéas, Osmane Barbosa, João Athayde, Oldemar Santos, mais alguns outros pecuaristas e industriais. O jovem cirurgião Konstantin Christoff e outro rapaz, Bolivar Silveira, tinham carro conversível. Nem o gerente do Banco do Brasil tinha carro, e seus funcionários iam para o trabalho de bicicleta. Diferentemente de hoje, era um tempo romântico e saudável... Já que falei em romantismo, quero evocar o Montes Claros Tênis Clube, ou seja a Praça de Esportes, que era a sala de visitas da cidade. Toda a beleza e suavidade de nossa urbes se resumia neste logradouro de ar puro, paisagem verde e céu azul de anil. Quem não fosse sócio da praça, estaria fora da história e da geografia da cidade. Era um pedaço do paraíso transportado para cá e plantado na várzea, um jardim de delícias da juventude. Mas a cidade era bem menor. Ainda não existiam bairros como o Todos os Santos, Jardim são Luis, Melo, Major Prates, Delfino Magalhães, Planalto. O São José estava sendo medido para loteamento. A Vila Guilhermina estava recebendo as primeiras moradias. Lembre-se que a Avenida Coronel Prates terminava em frente à Santa Casa e era limite do perímetro urbano. A cidade, realmente, explodiu e multiplicou-se, como fogos de artifício, clareando e abrindo novos caminhos. Funcionavam, aqui, três bons cinemas: o São Luís, o Coronel Ribeiro e o Ypiranga. Os filmes de maior sucesso, em 1953, formando extensas filas, foram O Cangaceiro, nacional, e Sansão e Dalila, de Cecil B. de Mile, com Victor Mature e Susan Hayward. O antigo Cine Montes Claros estava fechado para reformas e no local funcionava a churrascaria do gigante Leon Soltz, que era gaúcho e não estrangeiro. Os tipos populares, muito encontrados nas ruas, eram o pintor louco Alá-laô, que tocava violão, cantava e trabalhava nos raros momentos de lucidez; Juscelino, um doido calado que veio de Bocaiúva; Geraldo Tatu, no início de sua carreira, totalmente inofensivo; uma garota da vida fácil chamada (impiedosamente) de Chimbica, que poderia ser uma doente mental; outros menos expostos, e finalmente Mané Quatrocento, que era trabalhador e artista, apresentando-se em programas de auditório da ZYD-7 como cantor e galã. Montes Claros montesclareava e tinha de tudo um pouco.

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